A Fera do Mar

A crítica americana já se dobrou a esse A Fera do Mar, nova e uma das mais ambiciosas animações da Netflix em 2022. Chegando ao catálogo do streaming hoje, parte na tentativa de uma indicação ao Oscar ano que vem, além de tentar conquistar o público que compra seus produtos do gênero. O filme é uma espécie de Piratas do Caribe animado, que abre com uma sequência de espantoso realismo. A cena é um flashback sobre o que aconteceu com o protagonista na infância, ao sobreviver a um naufrágio provocado por uma das muitas criaturas marítimas que assombram o reino onde vive. Todo esse quadro é pintado como se fora um produto de live-action, onde cada elemento tem textura e profundidade, permitindo ao espectador uma imersão completa naquele momento. 

O filme não segue por esse caminho, preferindo alternar traços que proponham menos uma noção de realidade, mas também embarcando em um trabalho que é marcado por uma certa infantilidade nas cores e nas curvas. Isso cabe como um todo porque a protagonista do filme é Maisie, uma pequena órfã apaixonada por aventuras. O filme tem então um ponto de vista de uma menina que cresceu sem pais, o que vai permitir uma conexão rápida com Jacob, o adulto protagonista. Ele também é órfão, tendo sido criado por um grande caçador de monstros, e ao crescer reproduziu a profissão do pai adotivo. O encontro entre eles e a personagem-título vai fazer com que o filme também se conecte a Como Treinar seu Dragão, por essa relação homem-animal (???) que nasce entre os personagens. 

Chris Williams já tem um Oscar em casa, por Operação Big Hero, e a Netflix deu liberdade a ele inclusive desenvolver sua narrativa no tempo que for necessário. Com isso, A Fera do Mar tem quase 2 horas de duração, o que faz com que percebamos os excessos cometidos ao esticar tanto algumas passagens, deixando o filme inchado. Esse é o principal problema da produção, que é muito competente graficamente, não deixando nada a dever aos principais títulos do gênero, com certeza irá conseguir fãs de todas as idades, e nem podemos descartar uma continuação. Há potencial para reencontrar Maisie e Jacob mais uma vez, ao menos. 

A Fera do Mar cresce muito quando seus protagonistas atracam em uma ilha depois de conseguir fugir de seu destino insólito. Aliás, toda essa passagem, quando eles quase são devorados, posteriormente vão parar em uma ilha de monstros e acabam percebendo a inteligência e sensibilidade dos “animais”, é o momento onde tudo funciona em cena, inclusive nem se repara a duração por aí. O filme adquire uma autenticidade e um respiro de novidade em cena, adquirindo pernas próprias para desenvolver sua narrativa. Posteriormente tudo volta ao que era antes, e a produção volta a insistir em mensagens relevantes e necessárias, porém já vistas em muitas animações – a união dos perseguidos dá origem a um motim social que ganha adesão de todos aos poucos. 

Não têm muitos motivos que nos façam perceber o porquê da empolgação fora do comum com A Fera do Mar, um filme que tem passagens muito bonitas e emocionantes em isolado, mas que no conjunto carece demonstrar mais esses valores. Com certeza funcionará entre os meninos (afinal, trata-se de uma história cheia de ação entre aventureiros que caçam monstros) e entre as meninas (porque a representatividade feminina em Maisie, que acaba por se tornar a real heroína em cena), mas me pergunto se os adultos embarcarão na produção com o mesmo entusiasmo. Não que o filme tenha sido destinado para eles/nós, longe disso até… 

Um grande momento
O encontro com o ninho amarelo 

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