Terror
Direção: Rodrigo Aragão
Elenco: Elbert Merlin, Jackson Antunes, Carol Aragão, Francisco Gaspar, Markus Konká, Clarissa Pinheiro
Roteiro: Rodrigo Aragão
Duração: 98 min.
Nota: 6
Durante muito tempo foi frequente a reclamação sobre a inexistência do terror no cinema nacional, com exceção das produções de José Mojica Marins, o notório Zé do Caixão. Na última década, no entanto, a situação mudou de figura a partir da dedicação de uma nova geração de cineastas interessados no gênero, entre eles Rodrigo Aragão.
A Mata Negra, seu quarto longa (sem contar o colaborativo As Fábulas Negras), segue a fórmula que o transformou em expoente do horror contemporâneo: comunidade isolada, muito sangue e, especialmente, muito Brasil. São coisas nossas como o preto velho, a brejeirice e o fanatismo religioso neopentecostal que dão tempero diferenciado à rasa trama sobre uma menina (Carol Aragão) cuja vida vira uma sucessão de eventos arrepiantes e traumáticos após um misterioso moribundo lhe entregar o famoso (e poderoso) Livro de Cipriano.
Arquétipo da ingênua, a protagonista se embrenha nas matas do equívoco repetidas vezes, mas preserva uma resiliência e uma expressão de incredulidade chorosa que seguram o público na sua torcida, muitas vezes rindo das desgraças, porém ao mesmo tempo cientes de seu amadurecimento errante.
Apesar do clima de suspense da floresta cheia de segredos ser estabelecido de forma satisfatória desde o começo, é com a entrada em cena dos experientes Jackson Antunes, Francisco Gaspar e Clarissa Pinheiro que A Mata Negra fica mais encorpado, tanto em termos de atuação quanto de enredo. O núcleo da família de José (Gaspar) é praticamente uma sitcom dentro do longa, uma porteira escancarada para o humor que sempre esteve no ar, enquanto a matilha de fiéis inflamada pelo pastor (Antunes) traz o breve comentário social que conecta realidade e ficção supostamente 100% fantasiosa e insólita.
A maquiagem e os monstros são destaques absolutos do filme e o alien galinho mereceria inclusive um spin-off. Aragão, que começou com baixíssimos orçamentos, demonstra que sabe onde investir e como investir nessa fase mais abastada da carreira, de forma que A Mata Negra preserva aspectos trash especialmente no roteiro, mas tecnicamente aspira o padrão.
O longa se prende (e perde) em repetições – enterros, ovos, rituais, tentativas e erros – que parecem impedir um melhor desenvolvimento de apontamentos ou coisas mais pesadas do que banho de sangue na cara, mas diverte, segue cartilhas do gênero, homenageia clássicos, reflete sua terra e termina obrigando o público a esperar a continuação. Para uma primeira parte está bom, né?
Um Grande Momento:
O futuro candidato à presidência se revela.
Links
[III Mostra Sesc de Cinema]