Crítica | Streaming e VoD

Superinteligência

A última esperança (de amor) da Terra

(Superintelligence, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Ben Falcone
  • Roteiro: Steve Mallory
  • Elenco: Melissa McCarthy, James Corden, Bobby Cannavale, Brian Tyree Henry, Sam Richardson, Ben Falcone, Michael Beach, Rachel Ticotin
  • Duração: 106 minutos

O casal Melissa McCarthy e Ben Falcone, que já entregou filme novo esse ano na produção da Netflix Esquadrão Trovão, é um dos destaques do lançamento da HBO Max no Brasil, com um filme que estava pronto para ser lançado até antes da pandemia, mas que por conta de uma dança das cadeiras natural acabou sendo adiado e, com a chegada da COVID-19, desapareceu e agora finalmente esse Superinteligência dá as caras, e a surpresa: o casal não só assina enfim um filme bom como também entrega uma história de amor à moda antiga, com a dubiedade de estar falando de tempos modernos – não se engane, você já viu esse filme antes e muitas vezes, mas não é que mais uma vez ele funciona?

Escrito pelo mesmo Steve Mallory que geralmente assina os filmes do casal, o diferencial aqui não é na assinatura das piadas, na criação da narrativa ou no empenho da trama; não raro, é tudo muito simples demais, uma premissa que até renderia uma comédia das mais interessantes, uma abordagem sob o viés do humor acerca da dominação tecnológica que entregamos de bandeja às máquinas a cada dia que passa, e como é potencialmente cômico que uma inteligência artificial, de uma hora pra outra, pudesse não apenas dominar o mundo como decidir extingui-lo. Porém de efetivo mesmo, nenhuma das possibilidades narrativamente engraçadas são abraçadas, e o filme muito rapidamente descamba para a mais improvável saída.

Superinteligência

O timing cômico de Falcone enquanto diretor continua mínimo, esticando cenas ad aeternum desnecessariamente, o que no humor só significa que a piada, se era boa, se perdeu, ou se era má, se tornou insuportável. Isso acontece pelo menos três vezes, e a mais óbvia é a tentativa de Carol em encontrar o corredor certo para ir embora da empresa onde seu amigo trabalha, que demora muito além da conta sem qualquer acréscimo de qualidade. A entrevista da protagonista também é zero dinâmica e superestimada no humor, sendo salva por quem tem talento na relação, obviamente McCarthy.

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O assustador é perceber que, a despeito do que parecia impossível, o que salva e eventualmente eleva Superinteligência é o seu coração, ou melhor, a porção comédia romântica do filme, que não apenas é acima da média, como é percebido pelo filme em seu potencial, e a produção parece se dedicar cada vez mais ao casal composto por McCarthy e Bobby Canavale (de Blue Jasmine) e seu reencontro acompanhado pelo filme. Excelente ator que raramente é associado a qualquer outra coisa que não uma graça mais histérica ou uma vilania igualmente esgarçada, Canavale aqui é vendido como galã-troféu, e seu charme é aproveitado em cada cena; o ator está especialmente sedutor em cena, o que nos faz entender o porquê da personagem de McCarthy ter passado tantos anos sem esquecer George.

Superinteligência

Juntos em cena, os dois atores se entendem perfeitamente, e o público acaba por seguir essa fatia da produção com muito mais interesse e torcida, a despeito do interesse do longa girar em torno da dominação das máquinas, algo que A Família MItchell e a Revolução das Máquinas aborda bem melhor e com mais interesse, embora sua intenção não se restrinja a isso. A inteligência de Falcone (que não é nada super) foi perceber essa fagulha em seus atores, e deixá-los livres para ocupar os espaços da produção com seu envolvimento natural, o processo de resgate de dois personagens que já tinham encerrado sua história e nem sabiam desejar um novo momento.

Acaba por se destacar em Superinteligência um saudosismo do espectador em narrativas onde Meg Ryan e Sandra Bullock foram felizes nos anos 1990, uma dose de delicadeza de romantismo, sem resvalar em nenhum momento em vulgaridade, o que é um feito e tanto levando em consideração o histórico do diretor e as próprias escolhas de McCarthy, que mesmo aqui encontram uma grosseria vez por outra. Incrível que, no meio de um lugar tão propenso ao exagero, se encontre uma história de amor tão suave e cheia de entendimento do que talvez vença a tecnologia desenfreada – o encontro, sempre será ele o responsável por nos trazer de volta a humanidade.

Um grande momento
O dia seguinte

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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