Crítica | Catálogo

A Última Festa

A alma adolescente

(A Última Festa, BRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Matheus Souza
  • Roteiro: Matheus Souza
  • Elenco: Marina Moschen, Christian Malheiros, Giulia Gayoso, Thalita Meneghim, Victor Lamoglia, Victor Meyniel, Muse Maya, Richard Abelha, Caique Nogueira, Leo Cidade
  • Duração: 95 minutos

Matheus Souza, queiram seus detratores aceitar ou não, já pode ser chamado de um ‘bicho de cinema’. Surgiu no já distante 2008, aos 20 anos, com um filme sobre “o pessoal da idade dele”, Apenas o Fim. Foi chutado e celebrado em igual medida, e desde então a metade referente aos tais ‘haters’ aumentou desproporcionalmente ao que o jovem rapaz apresentava. Seu mais novo filme, a estreia A Última Festa, mostra um cineasta ainda interessado nessa geração (não é à toa que ele é um dos roteiristas de Eduardo e Mônica) da qual não faz mais parte, mas que ainda conhece muito bem. Seu amadurecimento veio na percepção desse entorno, ainda elitizado, mas muito mais diverso, inclusivo e repleto de comunicação. 

Isso é algo do qual não podemos acusá-lo, falta de conhecimento sobre o universo retratado. Ainda que essa fatia de universo não se comunique com tantas camadas quanto poderia, mas Souza segue interessado em mostrar essa hora mágica etária, um momento onde tudo muda para podermos enfim enxergar a real motivação de quem somos. Nesses 15 anos que nos afastamos de sua estreia, o que foi realçado é a sua preocupação com a diversidade, de cores, gêneros e vozes. Se temos um lugar favorecido monetariamente ainda sendo investigado, não conseguimos mais dizer que o ‘homem branco hetero e cis’ está em voga; esse personagem quase não existe em cena, na verdade. As portas foram abertas a outras demandas. 

Com duração do tempo da tal festa do título, o roteiro de Souza conversa com propriedade com o quarteto de amigos que tem suas questões a serem resolvidas nessa noite. Nina quer uma relação menos enquadrada com o namorado e acaba percebendo a atração de sua cunhada; Marina contou aos amigos que perdeu a virgindade mas isso é mentira, então ela precisa agora perder de verdade; Bianca está tomando conta do namorado bêbado, quando descobre que ele a traiu bem mais vezes do que o normal; Nathan é apaixonado pelo menino mais popular da escola, e esse cara criará uma gincana para poder beijá-lo. A Última Festa acompanha esse grupo e as pessoas com quem eles interagem durante o evento, e que é determinante no fim dessa etapa da juventude. 

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Você imaginou e está certo com tudo que imagina ver aqui, nada está longe do que já vimos. O que diferencia A Última Festa de seus congêneres lançados mensalmente é a sinceridade com que o filme é escrito e filmado, ou seja, percebido pelo seu autor. Souza trabalhou um tempo com Domingos Oliveira, e com ele conseguiu afiar um pouco mais sua linha perceptiva para com o próximo. Ainda que seus personagens se repitam muito, sejam constantemente uma reprise uns dos outros, rebatendo diálogos, insistindo em jogos de palavras em momentos separados, essa é uma ideia da idade, onde a construção verbal é muito coletiva. Mesmo que soe falta de personalidade aqui e ali (e realmente incomoda), o filme conta com esse filtro da repetição que é típico da geração. 

A composição estética de A Última Festa é especialmente interessante. Como descrito por um personagem, a festa do enredo teria como motivo ‘filme de época’, assim de maneira aleatória mesmo. Com isso, os personagens foram vestidos de maneira muito disparatada, o que poderia compreender em falta de unidade; pois acontece o contrário. O figurino e a apresentação do mesmo, a identidade que ele cria dessas pessoas e sua conexão com o resto da arquitetura estética do filme, é um dos elementos sedutores da produção. Seu conjunto harmônico contribui para o sucesso também dos valores que o filme carrega, chegando a um resultado que cresce quando pensamos que o filme jovem geralmente tem o despojamento como marca, e não o arrojo. 

O elenco é irregular, mas conta com alguns ótimos intérpretes, como a dupla formada por Thalita Meneghim e Victor Lamoglia (que já tinha trabalhado com Souza em Me Sinto Bem com Você, mais uma vez dando show), Marina Moschen, Giulia Gayoso e a dupla formada por Christian Malheiros e Victor Meyniel (prestem atenção nesse menino, um dom para o humor completo, até na corporificação). Com a ajuda deles na leitura de seus tipos, A Última Festa não entendia nem perde o ritmo; é um trabalho feito para a geração retratada, que nem sempre ganha produtos à altura. Enquanto eles tiverem um Matheus Souza para lembrar deles, a diversão e a sinceridade estarão garantidas. 

Um grande momento

O encontro na ambulância

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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