Crítica | FestivalMostra de Tiradentes

Ara Pyau – A Primavera Guarani

(Ara Pyau – A Primavera Guarani, BRA, 2018)
Documentário
Direção: Carlos Eduardo Magalhães
Roteiro: Carlos Eduardo Magalhães
Duração: 74 min.
Nota: 4 ★★★★☆☆☆☆☆☆

A questão indígena é urgente. É necessário falar sobre isso, e o cinema brasileiro nunca voltou suas costas a essa necessidade. Ara Pyau – A Primavera Guarani expõe a realidade enfrentada pela aldeia guarani que têm suas terras em Jaraguá, distrito de São Paulo. Após um demorado processo de demarcação de terra, sempre com perda de território, cerca de 800 indígenas se mobilizaram para exigir o retorno do pouco que tinham.

As intenções de Carlos Eduardo Magalhães são dignas de reconhecimento, do mesmo modo como é interessante conhecer uma causa que, assim como tantas outras indígenas, está cotidianamente sendo invisibilizada. Como documento, tem seu valor por apresentar uma aldeia que não só sobrevive em uma grande cidade, como tem incorporado em seu cotidiano influências da cultura do invasor, mas sem afastar-se de suas tradições.

Porém, o longa-metragem acaba perdido em seu próprio deslumbre. Se a vontade de filmar é grande, também é grande a falta de parcimônia na montagem, e passagens repetitivas mesclam-se a planos desnecessários e vazios. Bons exemplos estão na cena onde crianças interagem com a câmera e brincam com ela, algo que fala muito mais sobre o encantamento do diretor com as imagens que filma do que de sua relevância para o filme; ou o plano da escada rolante da saída do metrô, algo que não só é excessivo, dada a já sabida chegada à Avenida Paulista, como desnecessário ao resultado final.

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Há ainda um desequilíbrio na escolha das imagens. A simplicidade de algumas contrasta com a grandiosidade eloquente de outras e o longa vai se construindo de maneira irregular. Com esta irregularidade, destacam-se passagens repetitivas, prolongadas e até mesmo uma certa ingenuidade do realizador ao imaginar que artifícios – como a trilha sonora equivocada – seriam necessários para enaltecer uma história que teria força por si só, mas, infelizmente, não consegue ser contada de maneira eficiente.

Embora tenha o seu valor enquanto documento, falta cinema à Ara Pyau – A Primavera Guarani. Porque fazer um filme é muito mais do que apontar uma câmera a uma situação e enchê-la enfeites para que funcione.

Um Grande Momento:
“A gente não é tão burro assim.”

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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