- Gênero: Drama
- Direção: Trey Edward Shults
- Roteiro: Trey Edward Shults
- Elenco: Kelvin Harrison Jr, Lucas Hedges, Taylor Russell, Alexa Demie, Renée Elise Goldsberry, Sterling K. Brown
- Duração: 135 minutos
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A vontade de experimentar, criar novas sensações com misturas de elementos conhecidos, é sempre algo que nos faz prestar atenção nos novos diretores, nos veteranos também. Trey Edward Shults é um desses investigadores de fusões. Em seus filmes, luzes – ou a ausência delas -, cores, planos e som, alguns deles em determinações muito cristalizadas se misturam para tentar provocar outras coisas. Embora não seja um nome nem um pouco unânime, não dá para não reconhecer o diretor é inventivo e tem noção do que faz.
Porém, nem sempre existe uma parcimônia no uso de elementos. Se muito funciona em Krishna e em Ao Cair da Noite, em As Ondas tudo parece extenso e deslumbrado demais. Dividido em duas partes, o longa conta a história dos irmãos Tyler e Emily. Adolescentes, eles sofrem com impossibilidades, fracassos, tensões e escolhas erradas. O universo de cada um deles e a contraposição com o mundo adulto que os cerca são marcados com cores e movimentos de câmera. A juventude chega em repetitivos travellings circulares ou de aproximações. Há um sentido por trás do movimento, e até algum lugar em que ele se justifique, mas está longe de ser sempre.
Shults está tão preocupado em exibir suas habilidades de representação que se perde na profusão de artifícios, de tal maneira que, na primeira parte do filme, é custoso estabelecer uma identificação com o protagonista. Pelo contrário, ele fica jogado ali no meio de tudo. Sua jornada, mal desenvolvida também no roteiro do próprio diretor, apenas segue pelos caminhos equivocados e reprováveis – mais uma vez o feminicídio aleatoriamente em tela – de Tyler, dando pouco material para Kelvin Harrison Jr. (Luce) fazer algo digno de nota, e olha que ele ainda consegue surpreender em algumas cenas.
Se há uma coisa que vale em As Ondas é justamente o modo como Shulz quebra o protagonismo. Nada inédito, mas funcional, principalmente quando o centro das atenções não significa muito. A transição para Emily, numa abordagem consciente da influência da violência na vida de pessoas que convivem com agressores. Ou seja, aquilo que deveria ser um prólogo, vira metade do filme, levando uma eternidade para que se chegue em sua parte mais interessante.
Não que o desenvolvimento seja mais elaborado, ainda com vários problemas na construção de personagens importantes, como o Luke de Lucas Hedges (Manchester à Beira Mar), que também não tem muito o que fazer para salvar o personagem. A única relação real despertada pelo filme é com a irmã Emily, vivida por Taylor Russell (Escape Room). Ainda que frágil, um bom trabalho com silêncios e espaços abertos demarcando o deslocamento de alguém que teve a vida invadida pela violência do irmão. Mas ainda aqui há exageros.
As Ondas é um filme que quer ser lindo, criar uma linguagem própria com seus recortes de boas ideias. Poderia funcionar caso o deslumbre não fosse tão grande, assim como a crença em prolongamentos que enterram aquilo que realmente é interessante na história. Sem espaço para desenvolver relações e personagens satélites, e pouco dedicado à sua história, o longa de Shultz quer ser esteticamente único, mas não passa de um amontoado de referências mal costuradas.
Um grande momento
Conhecendo Luke