Crítica | Streaming e VoDDestaque

Agente Stone

Sabor genérico especial

(Heart of Stone , EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Tom Harper
  • Roteiro: Greg Rucka, Allison Schroeder
  • Elenco: Gal Gadot, Jamie Dornan, Sophie Okonedo, Matthias Schweighöfer, Alia Bhatt, Jing Lusi, Paul Ready, Enzo Cilenti, B.D. Wong
  • Duração: 111 minutos

A última vez que Gal Gadot deu as caras pela Netflix, entregou a maior audiência da História da plataforma – Alerta Vermelho. Não significou nada na categoria “qualidade”, mas o simples anúncio desse novo Agente Stone fez qualquer possuidor de bom gosto tremer. Pois o filme é o principal lançamento do streaming de agosto, e podemos respirar aliviados: se não é a descoberta de mais um Segredo de Fátima, ao menos o filme foca na eficiência coletiva e entrega exatamente o que o público quer ver de maneira honesta. Dependendo do espectador, o filme poderá ser melhor ou pior; em tese, é um produto de manufatura simples e narrativa ainda mais, porém absolutamente condizente com o cinema de ação da atualidade e sua temática. 

O diretor Tom Harper dirigiu o delicioso As Loucuras de Rose há alguns anos, e aqui deve ser diretor contratado, sem qualquer traço de gerência sobre o produto final. Mas ele conduz com até alguma leveza uma história que está se tornando cada vez mais recorrente no cinema de ação, que é a luta contra a inteligência artificial, que busca roubar ainda mais que nossos direitos no mundo de hoje. Como um primo pobre de Missão Impossível: Acerto de Contas Parte 1, Agente Stone é um jogo de gato e rato onde não sabemos necessariamente os papéis de roedor e felino, que parecem sofrer escambos a cada novo bloco de eventos; esse é um charme que o filme faz questão de explorar, com competência. Ao contrário de sua inspiração, as máscaras aqui são os rostos reais de cada ator, que podem estar dissimulando enquanto estamos com a atenção ligada em outra coisa, e isso é um mérito da produção.

Obviamente que Agente Stone é uma nova tentativa de franquia da Netflix, onde a personagem de Gal Gadot enfrentará novas aventuras a cada produção, e em muitos detalhes esse aqui lembra a aventura inicial de Ethan Hunt, aquela de 1996. Talvez porque na gênese daqui também exista uma preocupação maior do que os filmes de ação e espionagem em tese dedicam ao afeto entre seus tipos, e ao menos a Stone de Gadot é desafiada sempre a responder a respeito de suas decisões, que não deixa de levar em conta suas relações pessoais. Essa é uma cobrança que recai sobre ela a todo tempo, porque trata-se de uma agente infiltrada que deveria cuidar mais de sua integridade física, e ao invés disso arrisca-se por conta de suas decisões. 

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A discussão fica por conta de como uma personagem feminina tem suas capacidades atreladas ao emocional o tempo todo, não conseguindo ser isenta em suas atitudes. O quanto de seu trabalho fica comprometido por uma fraqueza que pode ser atrelada ao feminino através de um olhar machista? Seu contraponto é a personagem Nomad, vivida por Sophie Okonedo (indicada ao Oscar por Hotel Ruanda), a superior encarregada que treinou Stone no passado. Apesar do tempo de serviço da protagonista e de sua eficácia em campo, seus valores emocionais ainda não parecem desenvolvidos como deveriam a uma profissional com sua técnica. Do encontro entre essas suas personagens, nasceria a agente ideal, mas o filme prefere deixar seu tipo central com essa mácula que a coloca em lugar de desvantagem.

Do ponto de vista técnico, o filme é mais um produto da Netflix, ou seja, tudo é realizado em toque de caixa, o que garante excelentes momentos por um lado e em outro, onde devemos relevar o excesso de CGI. Batendo de frente com as aventuras onde Tom Cruise realiza de um tudo pessoalmente, não devemos exigir o mesmo de Gadot, Jamie Dornan e cia., mas fica claro onde um produto se sobressai, e o outro é só um derivado. Tendo em consciência de que estamos tratando de um genérico, Agente Stone diverte e entretém, e ainda nos trás algo raro: uma interpretação de verdade de Gadot. A ex-modelo geralmente é, da forma mais suave de falar, bastante preguiçosa em suas pretensões artísticas, mas aqui ela está visivelmente confortável, inclusive no que diz respeito ao seu viés dramático. Se ainda está longe das capacidades de uma Cate Blanchett, o filme chega ao fim com seu gráfico de qualidade acima da média. 

O elenco de Agente Stone eleva a brincadeira – favor não enxergar o título como algo além disso. Além dos já citados, Matthias Schweighöfer (o carismático protagonista de Exército de Ladrões), a excelente Alia Bhatt (de RRR), a dupla formada por Paul Ready e Jing Lusi, são todos excelentes e muito participantes da criação de um universo do qual temos vontade de retornar, após esse “longa de origem”. O que os personagens que esses atores vivem é a vontade de ficar acima de uma tecnologia contemporânea, aquela que já transforma nossa vida em um inferno sem metade das invenções desses filmes. Ao final é o pensamento de que Agente Stone é uma iniciante no ramo que ainda têm muito o que aprender, mas a depender dessa sua chegada, já podemos esperar pelo próximo com medo menor do que entramos nessa primeira incursão.

Um grande momento

A queda do dirigível

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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