Crítica | Streaming e VoD

Bird Box

(Bird Box, EUA, 2018)
Suspense
Direção: Susanne Bier
Elenco: Sandra Bullock, Trevante Rhodes, John Malkovich, Sarah Paulson, Jacki Weaver, Rosa Salazar, Danielle Macdonald, Lil Rel Howery, Tom Hollander, Machine Gun Kelly, BD Wong, Pruitt Taylor Vince, Vivien Lyra Blair, Julian Edwards, Parminder Nagra
Roteiro: Josh Malerman (romance), Eric Heisserer
Duração: 124 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

Com “Caixa de Pássaros”, Josh Malerman despontou como um novo nome da literatura de suspense a ser acompanhado. Com habilidade na construção da tensão próxima a de nomes conhecidos, como Stephen King, seu primeiro romance traz um futuro pós-apocalíptico onde uma mulher e duas crianças tentam sobreviver à invasão de seres que, quando vistos, provocam a fúria e o posterior suicídio dos humanos. A adaptação do livro, assumida por Susanne Bier e protagonizada por Sandra Bullock, chega agora à Netflix com o título no original, Bird Box.

Histórias de sobrevivência em futuros distópicos são um campo fértil para análises sociais e do indivíduo. Bastante comuns no cinema, em adaptações ou histórias originais, criaturas inexplicadas que destroem a humanidade, como as de A Noite dos Mortos Vivos, Um Lugar Silencioso, O Nevoeiro, A Noite Devorou o Mundo ou tantos outros, funcionam como personificações de conceitos e preconceitos, solidões e desesperos, e são, assim, representações do próprio ser humano e seu meio.

Em Bird Box, tanto no livro, como no filme, a loucura humana, em muitas camadas diversas, é o que está por trás de tudo, num esquema de adequação à loucura para evitar a loucura testemunhada. Há passagens no livro, escritas por um dos personagens da casa, interessantes, como “que tipo de homem se esconde atrás de cobertas e vendas? A resposta é A MAIORIA dos homens. Disseram que eles poderiam enlouquecer. Então eles enlouquecem.” Ou então, “Fazemos isso com nós mesmos […] Em outras palavras (guarde isso!): O HOMEM É A CRIATURA QUE ELE MAIS TEME”. Isso é mais discreto no filme de Bier, mas ainda está lá, dividindo espaço com um outro ponto principal: a maternidade e o tão real sentimento de proteção materno.

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Embora encontre uma força motriz suficientemente rica, o roteiro de Eric Heisserer concretiza um apêndice que diminui a potência da protagonista Malorie, não só na constituição da personagem, mas na criação de uma situação-muleta, que é usada como desculpa para as ligações mais fracas e apelativas do longa, como o chamado pela garota na floresta. O que, nas lentes de Bier, não surpreende e reafirma o medo prévio de sua adaptação para a história.

Ainda assim, o que se vê é bastante fiel à criação da ansiedade das páginas de Malerman. A alternância de narrativas, fundamental para essa tensão, é respeitada, assim como a impossibilidade de se descrever o real causador do medo e do caos. Se Bier se perde um pouco na apelação, ela se encontra bem no modo como constrói as cenas, como estabelece um ritmo dinâmico para os acontecimentos, principalmente os do tempo presente.

Ao fim, a adaptação em Bird Box pode trazer algum incômodo, mas é um filme que se vale sozinho e que encontra o medo e a ansiedade necessários para a história, fazendo com que o espectador fique grudado na cadeira – ou sofá, já que está na Netflix – e prenda a respiração a cada nova situação inesperada. Condizente, portanto, com seu objetivo principal.

Um Grande Momento:
O garoto cai.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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