Bitch Ass

Já faz um tempo que os jogos de tabuleiro voltaram a atrair a atenção de jogadores de todas as idades a despeito da concorrência sempre grande dos cada vez mais avançados games. Muito por causa da nostalgia e por causa da necessidade de estar juntos de verdade, carne e osso, cara a cara, fato é que, de uma hora para a outra, casas de jogos e mesmo os encontros para jogos tornaram-se cada vez mais comuns. Fato é que, em um mundo tão tecnológico, ainda mais depois de uma pandemia que afastou todo mundo por tanto tempo, abrir um tabuleiro e colocar os peões no lugar tem um gostinho ainda maior de voltar ao passado. Tomando por Bitch Ass, parece que é também a tempos idos que o diretor Bill Posley associa esse tipo de jogos.

O longa-metragem busca o tempo quando celulares não eram uma quase obrigatoriedade e computadores domésticos também estavam longe de ser tão populares, tirando o brilho dos dados e das cartinhas impressas, para contar a história de um serial killer fascinado por jogos como Lig-4, Jenga, Batalha Naval, Jokenpo e outros que os usa como inspiração para eliminar suas vítimas. Num formato que lembra os clássicos do mesmo período, com direito a uma apresentação com narrador, a la Contos Macabros, capitaneada por ninguém menos que Tony Todd, o Candyman de 1992, de começo frenético, com formato interessante em sua partição desconexa de tela, algo que lembra um vivo mágico, o filme atrai a atenção.

Para além daquilo que o torna um pouco diferente, Bitch Ass não traz nada realmente inovador, alternando entre temáticas batidas que vão de batismo em gangues de rua à lenda sobrenatural, passando por dramas familiares, fanatismo religioso e moral, bullying e questões de classe. Esteticamente, planos fechados e escuros, uma trilha over e muito vermelho são escolhas que não condizem com o começo interessante, assim como uma dependência exagerada de flashbacks para elucidar toda a história e construir o personagem, o que talvez questione se escolha de montagem do filme tenha sido a mais acertada para a manutenção do ritmo.

Entre as casinhas, peças e uma pegada gore interessante, infelizmente, o longa não se concentra naquilo que mais atrai e deixa evidente, por exemplo, a diferença entre as atuações ou a carência de humor. A trama, em suas muitas idas e vindas, está tão preocupada em determinar a relação da avó, a própria, e sua influência no assassino que se afasta demais do foco. Aquilo que era tensão vai se transformando em cansaço e o afastamento acontece. 

Porém, há um quê de inventividade inegável nessa abordagem slasher de jogos de tabuleiros que quer homenagear o black horror com um personagem que teria tudo para se tornar icônico. Com uma direção de arte que se preocupa em trazer elementos divertidos e pertinentes à cena, mesmo que nem sempre tão elaborados, figurinos marcantes e enredo, muita coisa está no lugar certo. O resgate, que deixa evidente toda a paixão do diretor Bill Posley pelo gênero, e o envolvimento de todos no projeto dão gosto de ver. 

Sabemos que nem só de paixão e envolvimento um filme é feito. Ao mesmo tempo que sobra muita coisa em Bitch Ass, falta também, no bom e no mal sentido. E o espectador, que criou muitas expectativas com o próprio longa, em seus primeiros momentos, talvez não chegue ao final como esperava, mas vai valer da experiência.

Um grande momento
A perseguição inicial

[SXSW 2022]

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