Crítica | Festival

A Fadinha do Gás

A magia do seu lugar

(Tank Fairy, TWN, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Erich Rettstadt
  • Roteiro: Erich Rettstadt
  • Elenco: Marian Mesula, Ryan Lin, Danielle Yen, Twingo Chang, Roger Yang
  • Duração: 10 minutos

Uma cartela preta parte da generalização, informando ao público quem são os entregadores de gás: “geralmente homens, barrigudos e desprovidos de glamour”. Ou seja, algo bem diferente da Fada do Butijão que vem para mudar a vida do nosso protagonista com suas longas unhas vermelhas e muito estilo. O curta A Fadinha do Gás, que leva o nome da personagem mágica, é uma envolvente, colorida e divertida história de coming out taiwanesa.

O diretor Erich Rettstadt aposta em inserções gráficas e no ritmo ágil para trazer leveza a um tema que nem sempre é tratado com tranquilidade. Do estranhamento à admiração, brinca com luzes e performances para falar sobre Jojo que, libertando-se da inadequação e do sentir-se diferente e deslocado, pela primeira vez, identifica-se com alguém. Sua fada madrinha, uma figura que contrasta com sua mãe para além da imagem e da incompreensão, é alguém que se parece com aquilo que ele quer ser.

A Fadinha do Gás
Manbo Key

Há em A Fadinha do Gás uma mensagem relevante do encontrar o seu lugar, o de se sentir representado em um mundo onde tudo o que te rodeia é diferente e descabido. Não existe nada pesado no curta, mesmo que os momentos de inadequação social, principalmente durante a descoberta na infância, estejam demarcados, a abordagem opta pelo caminho da magia. O que existe de negativo, aparece em símbolos que contrastam, como bolas de basquete e esculturas de unicórnio ou unhas descascadas e esmaltes vermelhos.

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Com poucos diálogos, A Fadinha do Gás depende muito da expressividade de seus atores, mas não tem grandes problemas, uma vez que a drag queen Marian Mesula tem uma presença magnética e contagiante. O jovem Ryan Lin é um achado, principalmente quando se joga nos números musicais. Estes, aliás, são pontos altos do curta, seja na dedicação na construção estética quanto pelas coreografias em si. 

Nessa quase versão de “Cinderela”, muito menos dramática e com direito a uma deliciosa versão que se repete de “Holding Out for a Hero” com muito vogue e gas daddies, fica a importância da representatividade, daqueles que fazem sentir que todos têm o seu lugar no mundo e que o problema, às vezes, é conosco e não com o outro. Há tanta coisa nesse curta gliterizado e dançante de 10 minutos que todos deveriam ver.

Dica: assista até os finais dos créditos, porque vale ver Lin e seu vogue por todo tempo que der. 

Um grande momento
Indo ser feliz.

[SXSW 2022]

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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