Crítica | Streaming e VoD

Carnaval

Só pela falta do trio

(Carnaval, BRA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Leandro Neri
  • Roteiro: Peu Barbalho, Audemir Leuzinger, Luisa Mascarenhas, Leandro Neri
  • Elenco: Giovana Cordeiro, Bruna Inocencio, Gessica Kayane, Samya Pascotto, Flavia Pavanelli, Jean Pedro, Lipy Adler, Nikolas Antunes, Rafael Medrado, Micael, Jean Pedro
  • Duração: 94 minutos

Trancados em casa desde março de 2020, os brasileiros não viram uma de suas festas mais importantes acontecerem esse ano: o carnaval. Não teve bloco para quem é de rua, desfile para quem é do barracão e nem trio elétrico para quem é do abadá ou da pipoca. É uma tradição tão arraigada que é quase como se 2021 não tivesse começado de verdade… e já estamos em junho. Quando a gente pensa na festa, pensa no futuro. Ninguém sabe como ou quando acontecerá de novo, se vai ter a mesma cara, o mesmo formato. Provavelmente algumas coisas vão mudar muito. Porém, a gente não esquece o passado recente.

A nova produção da Netflix, Carnaval, traz esse passado de volta e um misto de saudade e vontade de ter aproveitado mais. Seu cenário é a festa de Salvador, que reúne nada menos do que 16 milhões de pessoas em suas ruas. As imagens da multidão e da multiplicidade de blocos são aproveitadas pelo diretor Leandro Neri, que entende ser este um dos pontos de apelo de seu longa. E talvez sejam bem mais interessantes do que a trama que leva até elas, nem tanto pelo conteúdo, mas pelo desenvolvimento.

Carnaval (2021)
Desirée do Valle/Netflix

Carnaval conta a história de Nina, uma influenciadora digital que sonha alcançar o seu primeiro milhão de seguidores no Instagram. Depois de ser traída pelo namorado e virar meme na internet, ela e as amigas conseguem uma permuta com um dos cantores do momento e vão curtir Salvador. O roteiro, assinado pelo próprio Neri, em parceria com Luisa Mascarenhas, Audemir Leuzinger e Peu Barbalho, é básico ao construir a jornada de sua protagonista rumo ao autoconhecimento, e passa por elementos bem batidos como previsões e flashbacks explicativos. A trama aposta numa composição básica de personagens: a junção de figuras anacrônicas, aqui em um quarteto improvável; a “antagonista” rasa, e elementos acessórios, sem função na narrativa, para chegar ao desfecho esperado.

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O filme é protagonizado por Giovana Cordeiro e ao seu lado estão Bruna Inocêncio, Samy Pascotto e Gessica Kayane, mais conhecida como GKay, esta última influenciadora fora do filme, assim como Flavia Pavanelli, que vive Luana, aquela que Nina tem como modelo de sucesso. É sobre esse sucesso na internet que Carnaval quer falar, mas o faz de uma maneira enviesada, sem muita certeza ou profundidade. Quando tenta seguir por um caminho, não demora para que seja interrompido por uma aleatoriedade qualquer e mude de direção. Porém, em seus muitos desvios e ainda que os diálogos não sejam os mais elaborados e estejam cheios de obviedades, há química entre as atrizes e alguns bons momentos, que fazem rir aqui e ali. 

Carnaval (2021)
Desirée do Valle/Netflix

Depois de várias experiências na TV, incluindo a série Sandy & Junior e a novela A Padroeira, esta é a segunda direção de Neri no cinema, depois de Socorro, Virei uma Garota!. Assim como no filme anterior protagonizado por Thati Lopes (que aqui faz uma ponta como uma foliã sem-noção), ele tem um bom feeling na criação estética. Se lá ele volta aos 1990, aqui está interessado nas cores e na luz da capital baiana e faz um filme bem solar. Porém, por outro lado, há um certo incômodo no modo como o longa mergulha em conceitos culturais, regionais e religiosos.

Carnaval até chega ao ponto que queria, mas seu caminho é marcado por alegorias equivocadas e posições ultrapassadas, muitas vezes pontuadas por uma falsa perspectiva progressista. Mesmo querendo ser o contrário, tem posturas machistas, gordofóbicas e homofóbicas, por exemplo. No fim das contas, é um filme irregular que vai incomodar, mas fazer passar o tempo. E vai dar saudade de estar na rua e de pular carnaval também. 

Um grande momento
Será que eu estou em Alagoinha?

Fotos: Desirée do Valle / Netflix

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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