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Como Era Verde Meu Vale

(How Green Was My Valley, EUA, 1941)

Drama
Direção: John Ford
Elenco: Roddy McDowall, Walter Pidgeon, Maureen O’Hara, Anna Lee, Donald Crisp, John Loder, Sara Allgood, Barry Fitzgerald, Patric Knowles
Roteiro: Richard Llewellyn (romance), Philip Dunne
Duração: 118 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Entre as maravilhas de acompanhar um festival estão as mostras especiais. Neste ano, o homenageado da Mostra de São Paulo foi Martin Scorsese. Ao invés de uma retrospectiva com filmes dirigidos por ele, o diretor selecionou vários títulos da The Film Foundation, organização fundada por ele que se dedica à preservação e projeção de clássicos do cinema.

A chance de rever e, em alguns casos, conhecer filmes como esses na tela grande agrada qualquer cinéfilo. Na seleção, títulos inesquecíveis como Aconteceu Naquela Noite, Sindicato de Ladrões, Juventude Transviada, Rashomon, Rocco e Seus Irmãos, O Bandido Giuliano, Como Era Verde Meu Vale e outros.

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Dirigido por John Ford, Como Era Verde Meu Vale é baseado no livro homônimo de Richard Llewellyn e conta a história da família Morgan em uma das cidades mineiras ao sul do País de Gales. Ações sociais históricas importantes, como movimentos de greve, criação de sindicatos e a migração causada pela recessão, fazem parte da trama.

Quem conta a história é Huw, no momento em que está partindo do local. É ele quem nos apresenta o pequeno vilarejo e a família, composta pelo pai, a mãe, seus quatro irmãos e sua irmã. De todos os homens da família, Huw é o único que ainda não trabalha nas minas de carvão pela pouca idade. Com o desenrolar dos acontecimentos, a narração vai perdendo sua ingenuidade e positividade e assume um tom saudosista e melancólico.

O filme segue uma estrutura tradicional de melodramas, alternando momentos felizes com trágicos, e ganha muito de sua força ao retratar momentos históricos, como quando os mineiros sentem a desvalorização de seu trabalho causada pelo excesso de mão-de-obra após as demissões em massa das indústrias. Apesar de em grande parte ser dedicado a questões como essa, também tem grande parte de seu foco destinado a um relacionamento amoroso frustrado, além de algumas questões familiares e etárias.

Como Era Verde Meu Vale ainda faz um recorte interessante da sociedade daquela época, onde homens são retratados como seres pensantes e trabalhadores, e as mulheres como seres afetivos e responsáveis pelos cuidados com a casa. Há ainda uma alternância interessante na questão do feminino, contrapondo o fato de que a filha segue as vontade da família na hora de se casar, mas a mãe é responsável pelo discurso que traz toda aquela sociedade de volta à consciência em um momento de crise.

Tecnicamente, o longa-metragem é impressionante. Como foi rodado em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, toda vila – inspirada na cidade Gilfach Goch, no País de Gales – foi recriada nas montanhas de Santa Mônica, em um trabalho incrível de cenografia.

Em uma história cheia de canções, sendo a primeira delas cantada em gaulês, John Ford trabalha de maneira muito eficiente com as inserções musicais na narrativa. O diretor também consegue causar uma impressão positiva, com uma grande quantidade de pessoas em quadro, característica que o acompanha desde seus primeiros filmes. A primeira cena da escadaria, quando os mineiros estão voltando para casa ao fim do expediente, por exemplo, é de encher os olhos.

Mas a direção dos atores incomoda pelo tom exagerado, mas nada que esteja em desacordo com o tom melodramático seguido nas quase duas horas de projeção ou com aquilo que estamos acostumados a ver em muitas telenovelas por aí.

Cheio de qualidades e por sua importância cinematográfica, Como Era Verde Meu Vale é um daqueles filmes que podem ser revistos várias vezes e que traz àqueles que gostam de cinema uma satisfação que vai muito além do que está no filme. É uma experiência imperdível.

Antes de terminar, uma curiosidade: o longa-metragem ganhou o Oscar de melhor filme em 1942. O grande problema é que concorria com Cidadão Kane, filme considerado um dos melhores de todos os tempos do cinema.

Um Grande Momento:
Apaixonado pela primeira vez.

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Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=T7CV9SZovfU[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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