Crítica | Catálogo

Chef Jack, o Cozinheiro Aventureiro

Sabores em profusão

(Chef Jack, o Cozinheiro Aventureiro , BRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Guilherme Fiúza Zenha
  • Roteiro: Artur Costa, Roger Keesse, Matheus B. Oliveira
  • Duração: 80 minutos

Guilherme Fiúza Zenha realiza em Chef Jack, o Cozinheiro Aventureiro seu segundo filme infanto-juvenil consecutivo, após O Menino no Espelho. É muito bom termos no país um profissional dedicado à manutenção de uma tradição hoje esquecida no nosso cinema, que é a da manutenção desse público exigente. Se já tivemos Os Trapalhões e Xuxa um dia, com profissionais do gabarito de Tizuka Yamasaki e J. B. Tanko a frente de produções que arrecadaram milhões, Zenha hoje tenta criar esse papel fundamental na criação de uma nova geração de cinéfilos. Que além de tudo seja um profissional vindo de Minas Gerais e com uma sede de continuar essa empreitada, apresentando um material como esse, é saber que já estamos com algum futuro, ao menos. 

O roteiro foi escrito por Artur Costa, Roger Keese e Matheus B. Oliveira e traduz de maneira simples algumas demandas da atualidade, cultural e socialmente, além dos valores universais que estão na pauta. A importância dessa relação se traduz nas lições que o filme encampa sobre a descoberta do valor da amizade, a prepotência da fama e a aceitação de nossas virtudes e defeitos. No lugar do hoje, temos o papel da importância dos ‘reality shows’ como parâmetro para o sucesso, e a necessidade da reflexão a respeito de conceitos subjetivos acerca da qualidade e do sucesso de algo. Chef Jack, o Cozinheiro Aventureiro faz isso sem parecer didático (demais) e com disposição para agradar mais de uma geração. 

Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro
Sony

Com uma animação caprichada, de traços simples e colorido encantador, o filme chama a atenção exatamente por colocar seu espectador dentro desse contexto lúdico, porém realista. Concursos de culinária televisivos são uma febre há mais de 10 anos no Brasil, e um longa a jogar sua narrativa para esse lado tende a chamar atenção não apenas das crianças interessadas em um bom programa, como também no público desse tipo de atração. A ideia de transformar um chef de cozinha em um tipo inspirado em Indiana Jones é de muita criatividade, quase uma viagem de ácido, e por isso acaba contribuindo tanto para que a produção seja vista com olhos espantados, em sua conexão impensada. 

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Uma das qualidades infalíveis de Chef Jack, o Cozinheiro Aventureiro é sua agilidade, e a forma como conquista o público com sua energia caótica, onde fica claro em determinado momento que tudo poderá acontecer. Mesmo que nem sempre a situação fique toda muito clara, ou que sejam despejados excessos de informações que não conseguem ter respaldo mais à frente, o filme segue como uma montanha russa desembestada. Isso é positivo para uma obra que tem uns senões de roteiro aqui e ali, e que não pensa duas vezes antes de conquistar a atenção de seu público. Na velocidade alcançada, tudo é relativizado em prol dessa ideia do rolo compressor visual, que dispara para conquistar seu público, e apaga assim os possíveis questionamentos. 

Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro
Sony

Exibido dentro da Mostrinha em Tiradentes, dedicada ao público de pequeninos, na mesma semana em que estreou nos cinemas, Chef Jack, o Cozinheiro Aventureiro é mais um passo da nossa indústria na direção de produtos animados acima da média. Em comparação ao que tem sido lançado, esse aqui tem um visual superior, mas fica a dever nos detalhes da construção narrativa. O combo final, porém, é bastante positivo, pois deixa claro nosso empenho em construir uma marca que não seja referenciada apenas por dois ou três autores, mas que nosso cinema possa sim brigar com congêneres estrangeiros no futuro. A diversão e a beleza estão garantidas, e se contarmos mais vezes com um dublador da categoria de Danton Mello, metade do jogo estará ganho. 

No fundo do filme, tem um registro narrativo acontecendo com muita eficiência. A arrogância do poder que não percebe a admiração embevecida ao seu lado, sendo massacrada por forças alheias à sua vontade. Está lá, só faltou o filme ter mais cuidado com essa construção, dedicar-se a ela assim como aconteceu com as tintas, e acreditar no próprio potencial. É bom acompanhar o filme por esse viés sem depuração, mas que reside em Chef Jack.

Um grande momento

Jack e Leo se separam

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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