Crítica | Festival

birth/rebirth

Uma nova Dra. Frankenstein

(birth/rebirth, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Laura Moss
  • Roteiro: Laura Moss, Brendan J. O'Brien
  • Elenco: Marin Ireland, Judy Reyes, A.J. Lister, Breeda Wool
  • Duração: 98 minutos

Acesso, máscara de oxigênio, gente falando, a câmera em primeira pessoa, paramédicos. Um parto de urgência, uma mãe em situação delicada, um bebê em parada respiratória. Pouca coisa se entende na primeira sequência de birth/rebirth. É assim, de maneira frenética e confusa, que a desenhista de produção Laura Moss nos apresenta o universo de seu primeiro longa na direção, ela que já fez a arte de filmes como Yomedinne e I Don`t Live Today, e nos leva até aquilo que será o seu tema central: a morte e dificuldade de aceitá-la.

De maneira intercalada, conhecemos as duas protagonistas do filme: a enfermeira obstetrícia Rose, interagindo com um recém-nascido, e a patologista Celie, lidando com o corpo de uma puerpera. Nada que se verá a partir dali é o que se espera, já que roteiro de Moss e Brendan J. O’Brien é cheio de situações inusitadas, com reviravoltas e encontros que, a princípio, não fariam sentido. Com personalidades opostas e partindo do confronto, as duas acham um motivo para seguir juntas.

birth/rebirth tem muito de sua inspiração no clássico de Mary Shelley, “Frankenstein”. As perdas são o que leva de tal união. Celie é uma cientista desesperada pela cura da morte que tem no trabalho material suficiente para exercitar seus experimentos, fazendo de sua casa um laboratório. Rose é alguém que perdeu e enxerga uma oportunidade de reverter a situação.

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birth/rebirth
Cortesia Sundance Institute | Chananun Chotrungroj

A obsessão das duas pelo sucesso do experimento, que tem conotações pessoais para ambas, é o que guia o filme, que alterna entre o drama e o thriller, com pitadas de terror, dado que o resultado do experimento não poderia nunca levar para longe disso. Moss tem momentos inspirados e segue bem quando permite que a trama flua de acordo com a suspensão de suas protagonistas, mas talvez não seja tão eficiente nas provocações dos outros sentimentos no espectador e, sem acertar na montagem, ao prolongar demais o que poderia ser mais eficiente se houvesse mais coesão. É um longa que fica muito tempo patinando no mesmo lugar. 

Porém, a dupla Judy Reyes (Sorria) e Marin Ireland (The Umbrella Academy) funciona bastante. Nos detalhes, percebemos a culpa e a dor que levaram essas duas mulheres ao extremo de suas ações. Ireland, em especial, tem todo um trabalho físico muito marcante, e impressiona no desenvolvimento e transformação de sua cientista fria e apática.

Equilibrando-se entre pontos positivos e negativos, há coisas interessantes a se descobrir em birth/rebirth. Não é sempre que se tem a oportunidade de encontrar um clássico revisitado de maneira original, afinal de contas, e nem de se ver uma questão que tanto perturba ser abordada falando das mesmas coisas e de motivações reconhecíveis em ambientes familiares e com personagens factíveis, mas com eventos e situações completamente insólitos.

Um grande momento
“Está tudo bem? Você está sorrindo!”

[Sundance Film Festival 2023]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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