Crítica | Outras metragens

In Too Deep

A falsidade da surpresa

(In Too Deep, GBR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Chris Overton
  • Roteiro: James Spillman
  • Elenco: Rachel Shenton, Stephen Wight, Gregg Chilingirian, Madeleine Mckenna
  • Duração: 17 minutos

Se a dor da perda leva o protagonista de The After a buscar alguma maneira de preencher sua existência, ainda que seja com fragmentos da vida de outras pessoas; em In Too Deep, curta do primeiro Programa de Abertura do 19º HollyShorts Film Festival, essa ausência vem de outro lugar e carregada de outros espectros de culpa. Nele, Ben e Carol tentam descobrir como seguir depois que sua Jess, com apenas sete anos, foi raptada.

Com direção de Chris Overton, o filme é explícito ao mostrar a dor daquele casal e ao deixar evidente o que aconteceu, embora opte pela exposição não linear dos fatos. Os eventos chegam picotados, como pontadas de saudade preenchendo aquele vazio. Imagens e sons do passado, repetidas em várias telas aumentam a melancolia e a solidão autoimposta de um pai. Por outro lado, encontros e tentativas mais frontais de encarar o fato expõem a aflição da mãe. 

Porém, para além da dor, outra coisa vai sendo construída em In Too Deep. Overton vai entregando pistas que podem facilmente confundir o espectador e causa estranhamento com certas atitudes. Até chegar a seu ponto de virada, embora ele não seja exatamente o mais surpreendente, o curta não é previsível. Há um tema interessante a ser tratado ali, e o modo como o roteiro de James Spillman tenha conectá-lo à obsessão também interessa, mas não existe conforto no desfecho.

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E não se trata aqui de sentimento ou de algo que tenha a ver com o enredo do filme em si, embora isso também esteja ali. A questão está na abordagem e na dedicação ao desenvolvimento desta reviravolta. A surpresa, como apresentada, e seu desdobramento, rompe com uma lógica narrativa estabelecida até ali. Mesmo que o espectador crie outro interesse instantâneo e até mesmo novas informações coloquem o filme em outro lugar de curiosidade, como com a tecnologia por trás da produção, algo fica faltando.

Porém, In Too Deep consegue criar um suspense escondido em um drama e, em suas duas vias de dor. Contando com as atuações de Rachel Shenton (The Silent Girl) e Stephen Wight (I May Destroy You), e a fotografia melancólica e por vezes claustrofóbica de Ali Farahani, traz a desesperança e o desespero de pessoas que não sabem como seguir quando o vazio é grande demais.

Um grande momento
“Isso não aconteceu”

[19º HollyShorts Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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