(La Daim, FRA, 2019)
Vamos literalizar o retorno ao estado mais primordial, ao instintivo, ao animal. Mas nada de maneira muito fácil e gratuita. Temos metáforas, alegorias, substituições, pois aqui estamos falando de Quentin Dupieux (Wrong) e de mais uma de suas fábulas complexas sobre a obsessão.
Deerskin: Estilo Matador é mais um exemplar nonsense onde um homem, o recém separado Georges, vai às últimas consequências. O diretor francês brinca com os elementos e altera a ordem e a estrutura pré-estabelecida dos signos para falar sobre a fragilidade da masculinidade.
Diferente do lugar-comum, ele não se despe para voltar à natureza, mas se veste gradualmente de cervo, um animal reconhecido por sua posição desfavorável na cadeia alimentar e nos campos de caça pelo mundo.
O filme, que conta com Jean Dujardin (O Artista) e Adèle Haenel (Retrato de uma Jovem em Chamas) no elenco, é dividido em duas partes. A primeira está focada na obsessão de George e é mais observacional, dedicada ao estranhamento da construção das personas e das situações. Dupieux não facilita, embora saiba trabalhar o humor, vai entregando as pistas gradualmente, até que seu quebra-cabeça comece a fazer sentido.
A segunda parte dedica-se à ação, quando o resultado de todo o bege adquirido – em mais uma substituição, já que o vermelho aqui também não tem lugar – funde-se em frenéticas sequências de slasher. Nada inesperado para o cinema de Dupieux, que é um contumaz mesclador de gêneros e referências.
Ao chegar ao final do filme, absolutamente toda a jornada que parecia não fazer nenhum sentido, ganha coerência. No fundo, Dupiex faz isso, capricha com cores exageradas – ou com o bege exagerado – e cria alegorias para coisas que são extremamente humanas e comuns.
Deerskin é um longa sobre um cara que não sabe lidar com a perda e que delira sobre o caminho para encontrar o seu lugar de volta no mundo. Ou sair dele de vez.
Um Grande Momento:
Alcançando o objetivo.