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Diários de Intercâmbio

Sonhos possíveis

(Diários de Intercâmbio, BRA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Bruno Garotti
  • Roteiro: Bruno Garotti, Sylvio Gonçalves
  • Elenco: Larissa Manoela, Thati Lopes, Bruno Montaleone, David Sherod, Kathy-Ann Hart, Valeria Silva, Ray Faiola, Noa Graham, Maiara Walsh, Emanuelle Araújo
  • Duração: 96 minutos

Larissa Manoela é um fenômeno, a essa altura já podemos declarar isso como algo estabelecido. A garota desde criança (o que significa outro dia) estampa cadernos, lancheiras, capas de cds e conseguiu um feito incrível e muito difícil, que é transicionar para a idade adulta mantendo números crescentes de fãs – quer dizer, seguidores, em linguagem da geração Z – e um talento que não arrefeceu, pelo contrário, ampliou seu horizontes atingindo novas metas. Esse Diários de Intercâmbio, super lançamento de hoje da Netflix, é o começo de uma nova fase, depois de inúmeros sucessos.

Bruno Garotti também está em momento de crescimento. O diretor responsável pelos sucessos Eu Fico Loko e Tudo por um Popstar aqui volta a se encontrar com Dante Belluti, o fotógrafo responsável pelo segundo e que está expandindo seu talento (vocês já viram Como é Cruel Viver Assim?), e ambos conseguem um resultado surpreendente para um produto pós-teen ao atacado, num tanto que o filme alcança alguns degraus acima do que pretendia o trio – Diários de Intercâmbio é uma comédia acima da média, com um roteiro surpreendente, situações de humor realmente engraçadas e, olha, tem até discussão pertinente sobre as relações internacionais e como nos relacionamos com a dominação americana e suas influências.

Diários de Intercâmbio
© Netflix

Larissa, Bruno e Dante conseguem criar materiais de primeira para cada um deles. Dramaticamente é um filme rico de possibilidades cujo clímax é incrível e reúne todas as tramas com muita propriedade e competência, o roteiro de Garotti e Sylvio Gonçalves se conecta e promove muitos entendimentos em sua reta final, a respeito de todos os seus temas, concatenando o respeito às individualidades que é tão caro no país palco do filme. O roteiro inclusive brinca com a ideia de filmes americanos tradicionais, como o final em tribunal – que, ok, não é uma piada, mas a gente se diverte como se fosse.

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Se em Fala Sério, Mãe!, Larissa tinha Ingrid Guimarães como partner, aqui ela encontra Thati Lopes (de Me Sinto Bem com Você), uma das melhores descobertas do Porta dos Fundos. Elas engatam uma parceria incrível, uma fortalecendo a outra, como duas amigas que viajam para os Estados Unidos como intercambistas e acabam se envolvendo em inúmeras situações, cômicas e românticas – e uma delas, até perigosa. Não apenas o talento individual delas é comprovado, como seus encontros (que vão se espaçando durante o desenvolvimento do enredo) são cheios de química e espirituosidade.

Diários de Intercâmbio
© Netflix

O filme ainda tem uma mensagem sobre a busca dos sonhos particulares que é a principal em cena, tendo em vista que o filme não se encerra com os tradicionais acertos amorosos, beijos de paixão e promessas de amor eterno. Ou seja, além de tudo, o filme comporta uma visão feminista para um gênero desgastado como a comédia romântica; o que adianta amar alguém sem dar oportunidades reais para amar a si mesmo, transformar suas metas em realizações pessoais e garantir seu futuro? Ou seja, ainda é um filme que alimenta no seu público-alvo, exatamente a faixa etária da sua protagonista, uma ideia de liberdade profissional e crescimento pessoal como prioridade na vida.

Entretenimento de qualidade, sem deixar de ser uma produção requintada, Diários de Intercâmbio provavelmente seria mais um campeão de bilheteria de Larissa Manoela, e que chegou à Netflix graças a pandemia. Talvez o lugar mais adequado para estrear seja enfim esse mesmo, já que agora o produto está invadindo casas no mundo todo e mostrando, através do humor, várias lições a respeito do tratamento ao imigrante, com diferentes camadas e inúmeras possibilidades de diálogo e desfecho para um tema que é a ordem do dia. Aliado ao bom humor que sua dupla de protagonista leva ao produto, eu diria que isso sim é um final feliz para todos.

Um grande momento
O clímax inchado onde tudo funciona

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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