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Ela Volta na Quinta

(Ela Volta na Quinta, BRA, 2014)

Drama
Direção: André Novais Oliveira
Elenco: Maria José Novais Oliveira, Norberto Novais Oliveira, André Novais Oliveira, Renato Novais Oliveira
Roteiro: André Novais Oliveira
Duração: 118 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

André Novais Oliveira é um diretor que vai chegar longe. Sua capacidade criativa audiovisual impressiona desde seu primeiro curta-metragem, Fantasmas. Há muito de lírico em suas concepções, há um conhecimento de enquadramento, iluminação e uma capacidade de transformar aquilo que tem ao seu alcance raros de se encontrar por aí.

Tudo isso está muito presente em Ela Volta na Quinta, longa-metragem de estreia do diretor, que impressionou público e crítica pelos festivais e mostras onde foi exibido no decorrer de 2014 e que finalmente chega aos cinemas brasileiros.

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O filme é uma representação do cotidiano. Usando pessoas comuns, no caso seus próprios parentes, André traz a mesmice da vida de todos para dentro de uma história de ficção que tem muito de verdade. É no conforto e controle de sua realidade que ele encontra elementos para dar vida a sua trama, o que é, sem dúvida, incrível.

Além disso, há opções estéticas curiosas e cenas realmente marcantes que contrastam com a simplicidade do que está por trás das sequências. Assim, o diretor desperta a curiosidade do espectador e faz com que o longa-metragem seja assistido com um envolvimento verdadeiro e profundo. Seja nos momentos de humor, de romance ou de drama.

Ela Volta na Quinta impressiona desde os primeiros momentos da projeção, quando o público é apresentado ao casal principal com uma sequência de antigas fotografias ao som de Cassiano e a bela canção O Vale. Eles são Norberto e Malute e, casados há 38 anos, enfrentam uma crise no relacionamento enquanto os filhos André e Renato, já adultos, estão começando suas próprias famílias.

Tecnicamente, o filme impressiona pela sensibilidade. Quadros estáticos e ângulos diversos são valorizados com um uso curioso da luz, por muitas vezes completamente ausente, como na cena da conversa na cama, onde a escuridão parece diminuir sensações dos personagens que são ressaltadas na presença da luz.

Do mesmo modo, há a percepção apurada de campo, que trabalha muito com elementos fora da cena, antecipando situações ou manipulando pontos de vista, como na conversa entre os dois irmãos. Tudo funcionando muito bem na recriação desse cotidiano real/fictício criado por André Novais Oliveira.

Porém, há alguns deslizes na constante determinação dessa realidade, com um certo desequilíbrio na durações de cenas e o prolongamento de situações, dando ao filme a sensação de ser muito maior do que é.

Outro problema está na edição e na manutenção de alguns momentos. Embora todos eles tenham uma função bem determinada na cabeça do diretor, há uma permissividade que destoa do resto do filme. Como se aquilo que se vê fosse mais significativo do que a história contada.

Pensando de maneira mais macro, há também um certo incômodo na semelhança entre os projetos familiares do novo cinema mineiro quanto ao seu modo de execução. A facilidade em lidar com os atores amadores com quem se têm intimidade e até mesmo o apego extremo ao naturalismo cotidiano são ao mesmo tempo um achado, mas falta um certo profissionalismo no resultado final.

Essa ausência, ou talvez uma certa ingenuidade, também fica clara na polêmica que manteve o filme longe dos cinemas até agora.

Tudo porque uma das cenas mais lindas do longa, daquelas que ficam na cabeça do espectador por muito tempo, era embalada pela canção Olha, de Roberto Carlos, conhecidamente complicado na hora de liberar os usos de suas músicas. Para o lançamento comercial do filme a cena teve que ser regravada com outra música no lugar.

Mas passando por cima de tudo isso, Ela Volta na Quinta caiu no gosto da crítica justamente por sua forma de retratar o cotidiano e pela inquestionável capacidade técnica do diretor. E há mesmo muita coisa a ser exaltada por sua qualidade e por suas ousadias, mas não é uma linguagem que consegue agradar com muita facilidade o grande público e talvez possa incomodar alguns com a falsa impressão de falta de roteiro.

Independente de qualquer coisa, André Novais Oliveira é um cineasta a ser observado. Com o passar dos anos, vai firmando seu nome e tem tudo para se tornar um grande diretor.

Um Grande Momento:
A dança.

Ela-volta-na-quinta_poster

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=MNNioEqKpw4[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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