Crítica | Streaming e VoDCríticas

iNumber Number: O Ouro de Joanesburgo

Frenesi que se desliga

(iNumber Number: Jozi Gold , AFR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Policial
  • Direção: Donovan Marsh
  • Roteiro: Donovan Marsh
  • Elenco: S'Dumo Mtshali, Presley Chweneyagae, Brenda Ngxoli, Noxolo Dlamini, Fana Mokoena, Bongile Montsai, Deon Lotz
  • Duração: 108 minutos

O mundo foi apresentado com regularidade a algumas cinematografias graças ao acordo que a Netflix fechou com vários países de difusão menos facilitada. Se as pessoas não têm frequência de assistir filmes poloneses ou dinamarqueses, o que podemos dizer da produção da África do Sul? Há quase 20 anos atrás eles ganharam um Oscar de filme internacional (Infância Roubada), mas isso não aumentou a circulação de seus filmes por aqui. O streaming sim fez esse país ter a visibilidade alcançada, e hoje um filme como iNumber Number: O Ouro de Joanesburgo inclusive torna-se um campeão de audiência na plataforma. Esse apenas é um dos motivos pelo qual a Netflix hoje tem o status que tem, por aumentar não apenas a produção desses países, como principalmente dar distribuição a eles. 

Dez anos antes, Donovan Marsh (de Eu Sou Todas as Meninas) já tinha dirigido um outro filme de mesmo título e com os mesmos protagonistas, mas agora parece investir em uma nova aventura com essa dupla de policiais. Chili é mais destemperado, Shoes é um pai de família certinho; nesse novo iNumber Number: O Ouro de Joanesburgo eles estão atrás de um contrabandista de ouro, que acabam por descobrir ter ligações com diversos setores da sociedade local. Estamos diante de um filme de ação, que a princípio trabalha com uma ideia de vertigem em suas imagens que soa promissora. De cara, é isso que nos ganha na produção, quando acompanhamos as infiltrações de câmeras por lugares inusitados e de forma igualmente inusitada. 

A alegria dura pouco, no que faz lembrar o capricho das telenovelas nos primeiros capítulos apresentados, onde a fotografia se aproxima das experiências cinematográficas. Em iNumber Number: O Ouro de Joanesburgo acontece igual, a partir de meia hora de filme, a apresentação já se encerrou e passamos a acompanhar uma trama cheia de corrupção, chantagem e crimes como tantos outros já vistos. Não é que nos desinteresse pelo que vemos, mas se tinha algo de especial no trabalho de Marsh, estava na adrenalina que ele empregava às imagens, conduzidas de maneira frenética e sempre nos fazendo duvidar da capacidade de inserir tais planos naqueles quadros. O que tinha um componente de urgência nas primeiras sequências, acaba caindo na burocracia. 

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Partimos então na direção dos personagens, e talvez ninguém chame mais atenção em iNumber Number: O Ouro de Joanesburgo do que a delegada interpretada por Brenda Ngxoli. Muitas vezes acima de todos os tons, a atriz emprega uma canastrice que cabe demais no tipo, uma mulher que se imagina acima da lei, e que não tem qualquer escrúpulo para conseguir o que quer. Apesar de destoar do resto do elenco, ou talvez até por isso, sua presença tem uma espécie de magnetismo natural, que captura o olhar e não deixa o público escapar à sua presença. Um filme recheado de personagens curiosos como esse, ainda conseguir ter um eclipse que se interponha a todos os atores, é um mérito conjunto, mas que se vale do talento de uma atriz corajosa. 

Podendo ser adaptado para qualquer outra nacionalidade com a presença de Jason Statham ou The Rock e o resultado ser bem parecido, iNumber Number: O Ouro de Joanesburgo não serve como programa turístico da África do Sul. Os lugares de ética difusa e a ideia da corrupção ao alcance de qualquer um não são bons cartões de visitas para nenhum país. Mas serve para que o país seja visto com menos restrição no circuito cinematográfico, principalmente pelo público em busca de um divertimento sem compromisso. É uma pedida sem contra indicações, a não ser que você tenha muitas restrições a suspensão da descrença. Lá pelas tantas, precisam apertar o botão do ‘dane-se’ e deixar correr solto, porque toda a logística, coerência e sofisticação se despedem sem pedir licença. O que, sob algum ponto de vista, também representa diversão sob medida. 

Um grande momento

A primeiro sequência, antes do encontro para a troca das malas

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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