- Gênero: Ficção
- Direção: Gabriela Lamas
- Roteiro: Felipe Yurgel, Gabriela Lamas, Maurilio Almeida
- Elenco: Gabriela Lamas, Maurilio Almeida
- Duração: 17 minutos
-
Veja online:
Nas mostras nacionais dos grandes festivais, sempre há aquela vaga, ou aquelas vagas, destinadas a representantes da produção regional. Algo que está num lugar diferente da mostra dedicada apenas à títulos do local, no caso de Gramado, o famoso “Gauchão”. Embora algumas vezes a presença dos títulos seja justa, nem sempre é assim, e o que se vê deixa uma sensação de cumprimento de “acordo de cavalheiros”. Eu Não Sou um Robô, curta dirigido por Gabriela Lamas, é um desses filmes. Presente tanto no Gauchão quanto na seleção de curtas brasileiros, o filme tem uma ótima premissa, uma óbvia limitação de recursos, muita vontade de realizar, mas a real dificuldade de dizer aquilo que pretende.
O curta já chama a atenção — e a identificação do espectador — com o ponto de partida. As novas tecnologias invadiram nossas vidas de maneira avassaladora e, nos últimos tempos, sem possibilidade de fuga. A frase do título virou corriqueira na vida de todos, com uma caixinha para ser marcada e uma seta azul seguida do texto reCAPTCHA. Se tudo der errado, ou se você precisar fazer algo várias vezes, isso se transforma no inferno de várias fotos onde você a função dos não robôs é identificar bicicletas, barcos, semáforos, faixas de pedestres e hidrantes que eles gostam de disfarçar na paisagem para sacanear o humanos até que eles desistam de provar sua humanidade.
O que seria divertido, dado que estamos falando de um filme pandêmico e isso se tornou uma prática ainda mais comum, acaba tendo que se transformar pela frivolidade da própria brincadeira. Lamas encontra um caminho e mantém o interesse ao assumir a solidão que invadiu a vida desses “não robôs” a partir das notícias que começaram a assombrar o mundo em 2020 e chegaram no Brasil em março daquele ano, trancando todos dentro de suas casas. Muitos que estavam sozinhos ficaram assim por muito tempo, sem ter com quem se comunicar presencialmente.
Não haveria falta de recurso ou precariedade de realização que contrariasse uma premissa tão forte como essa, mas a vontade de criar uma interação, não só física, como conceitual, transformam o filme. É como se fosse necessário um elemento fantástico, algo palpável — e visualmente convincente — para que as pessoas acreditassem naquela história. Isso a enfraquece de maneira a quase anulá-la, sem falar que o andamento vai tornando-se arrastado e pouco envolvente, pela quebra que acabara de acontecer.
Felipe Yurgel, Maurilio Almeida (que faz o papel da mosca) e a própria Lamas, responsáveis pelo roteiro, vão unindo situações reais e possíveis a eventos cotidianos de uma quarentena, à vida daquela mulher nos diálogos entre ela e aquele ser, mas, por mais que o que digam interesse, a dinâmica não é funcional. Assim, Eu Não Sou um Robô é um filme de primeira metade, onde uma grande premissa ficou pelo caminho porque uma suposta grande ideia atravessou aquilo que teria muito sucesso se feito seguindo o mais antigo e sábio dos ensinamentos do mundo: menos é mais. E, infelizmente, embora quase tenha sido, não é um filme que vem para supreender na mostra nacional representando a produção regional.
Um grande momento
Marcando quadrinhos