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Excelentíssimos

(Excelentíssimos, BRA, 2018)
Nota  
  • Gênero: Documentário
  • Direção: Douglas Duarte
  • Roteiro: Douglas Duarte
  • Duração: 152 minutos

Histórias recentes são mais difíceis de se trabalhar. Quanto mais indignação existir, mais difícil. E de uma dificuldade que não está apenas na concepção, captação e montagem pelo realizador, mas também na assimilação pelo público. Isso é percebido em Excelentíssimos, documentário de Douglas Duarte, sobre o golpe parlamentar de 2016, em cartaz nos cinemas.

Soares se infiltra no congresso para descobrir os meandros do julgamento de impeachment. Faz mais, constrói uma retrospectiva para resgatar aquilo que estava por trás do golpe, chegando a lugares já suspeitos e conhecidos do jogo sujo que move a política brasileira há décadas.

A indignação do autor é quase palpável e ele não faz nenhuma questão de esconder o seu posicionamento, inclusive colocando-se como o narrador da história. É junto com ele que o público volta à 2014 e a Alberto Youssef, às delações de donos e diretores de empreiteiras, ao escândalo que sacudiu a classe política.

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É difícil rever aquilo tudo que acabara de acontecer e ainda está gerando efeitos tão nocivos até hoje. Além de captar imagens, Excelentíssimos apresenta uma larga pesquisa de material, com vídeos produzidos, publicidades e matérias jornalísticas, além de mais um vasto material captado pelo próprio diretor dentro da Câmara dos Deputados.

Assim como o material é variado, são variados os modos de alcançá-lo. Duarte usa várias linguagens documentais. Entre outras, tem narração, cartela informativa, entrevista, imagens de arquivo, observação, manipulação de imagens em closes pixelados. Esta profusão não faz muito bem ao filme, principalmente por destacar o apego ao material de determinadas sequências, como a da reunião da bancada evangélica.

Ainda que tenha problemas de forma, o filme traz o incômodo ao jogar o espectador novamente dentro de um esquema tão nojento e cheio de interesses individuais. Rever Aécio Neves não aceitando o resultado das urnas, o PMDB – sempre ele – surgindo como solução inescapável, o apoio do mercado, a atuação de Sérgio Moro como determinante, a manipulação da massa, o envolvimentos de políticos que se prejudicariam caso as coisas continuassem como estavam (“tem que estancar a sangria”), aquela votação ridícula “pela família” na Câmara é difícil e pesaroso.

Por fazer esse resgate, Excelentíssimos é um filme importante para o momento atual, para que a história, narrada de maneira tendenciosa pelos veículos de imprensa enquanto acontecia, encontre todos os lados e seja compreendida pelas futuras gerações. Assim como O Processo, de Maria Augusta Ramos, que abordava o golpe na casa legislativa ao lado, o documentário de Duarte faz parte de uma narrativa que foi negada e por isso é relevante.

Tem problemas por ter sido realizado, como dizem, no calor do momento, por não ter o distanciamento necessário para trabalhar com a história que quer contar, o que faz com que o produto cinematográfico não seja tão regular. Porém, é um cinema que encontra o seu lugar na denúncia e no esclarecimento e não deixa de ser uma obra necessária no resgate do sentimento que todo esse processo causou e precisa ser expressado.

Um Grande Momento
O primeiro pronunciamento de Dilma.

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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