- Gênero: Documentário
- Direção: Moara Passoni
- Roteiro: David Barker, Fernando Epstein, Moara Passoni
- Duração: 75 minutos
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O cinema é feito de imagens e sons. Num jogo simbiótico, formas e sentidos se determinam, se impõem alternadamente. Entre imagens que ilustram palavras e palavras que narram imagens, as possibilidades são infinitas. Repetições e reaproveitamentos de umas ou de outras não são só possíveis quanto desejáveis. É nesse jogo que se baseia Êxtase, documentário que trata da anorexia, não se conforma com a determinação do gênero, e mergulha na dramatização e na ficção.
Seguindo uma tendência bem comum no cinema de hoje, presente em filmes como o italiano A Passagem, o longa de Moara Passoni parte de um suposto diário, onde memórias individuais se confundem a especulações. Em uma conversa entre fases de uma mesma vida, as realidades são alteradas para encontrar a narrativa, assim como a narrativa é direcionada para encontrar a realidade, não de uma, mas de muitas.
O jogo complexo encontra imagens diversas: umas criadas, outras usurpadas. A ilustração da fala e a narração da imagem se apresentam em estado pleno. Por trás do jogo, uma grande quantidade de símbolos se acumula. Há algo de óbvio, nas ossadas, como uma dança macabra que, diferentemente, une em vida, em contraposição com a cidade de Costa e Niemeyer e sua supervalorização da forma. Há algo de estranho, na adrenalina da corrida encenada e na da manifestação resgatada de arquivo. A fome contra a qual se grita em protesto e a fome que a protagonista persegue.
Obviamente inspirado no cinema de Petra Costa, produtora do filme e com quem Passoni tem uma longa parceira, Êxtase encontra uma independência narrativa que a diretora de Democracia em Vertigem prefere não imprimir a seus trabalhos. O documentário aqui consegue descolar-se do pessoal e atinge uma universidade e identificação além das palavras e da personificação da documentada. Se não são Clara, muitas e muitos já foram, tentaram ou pensaram em ser.
Contextualmente, embora carregue a tinta na determinação de causa e consequência, freudianamente isso mais expande do que restringe, mas a relativização não intencional, que transforma a doença em algo quase sublime, ainda que em delírio de quem dela sofre, é incômoda. Há clareza na intenção, principalmente pela escolha de cores e texturas, de se explorar a visão interiorizada da anorexia, mas até que ponto retratá-la de tal forma não é algo que atinge diretamente quem tem distúrbios alimentares?
Êxtase é um filme arriscado, que alcança seu objetivo: falar e expor a anorexia de maneira marcante. Porém, indo além da questão ética e apegando-se à construção imagética, nem toda a elaboração formal e apuro na estética e no jogo imagem-palavra conseguem esconder a insegurança. Entre tantas imagens e discursos, Passoni mostra demais com seus retratos e é literal sem necessidade. Às vezes é preciso confiar nas imagens que transcendem a tela e se formam individualmente dentro de cada espectador. Ela traça o caminho, mas não acredita nele.
Um grande momento
Clarinha olha para Clara