Crítica | Streaming e VoD

Festa no Covil

Sem coragem

(Fiesta en la Madriguera , MEX, 2024)
Nota  
  • Gênero: Drama, Policial
  • Direção: Manolo Caro
  • Roteiro: Nicolás Giacobone
  • Elenco: Miguel Valverde, Manuel Garcia-Rulfo, Debi Mazar, Teresa Ruiz, Alfredo Gatica, Mercedes Hernández, Raúl Briones, Daniel Gimenez Cacho
  • Duração: 98 minutos

É raro, mas acontece: às vezes, o que nos incomoda em uma produção não é ela necessariamente ser ruim, um conceito tão subjetivo quanto todos os outros na qual são criados os parâmetros do que se imagina ser a análise crítica de um filme. Vejam Festa no Covil, por exemplo, que acaba de estrear na Netflix: a trama, em sua essência, é bastante banal e a condução tenta realizar algo fora dos padrões ali, para criar um verniz diferenciado ao que entrega. O material, no entanto, esbarra na absoluta falta de interesse pelo que se conta, onde talvez nem a proposta de direção tentasse alcançar, em vão. Estamos diante de um produto de onde a falta de qualidade talvez fosse até um ativo do filme maior que a incontornável ausência de importância que fica clara. 

O filme é a adaptação de um best-seller mexicano, cujo roteiro foi escrito por Nicolás Giacobone (que tanto tem um Oscar pelo ótimo roteito de Birdman quanto escreveu o mais recente desastre de Alejandro Gonzalez Iñarritu, Bardo). Festa no Covil acaba ficando no meio termo entre apresentar uma narrativa que não tem nada de novo a apresentar em suas inclinações, e em florear o material com algo parecido com um realismo fantástico que nunca chega a empolgar, porque nunca se impõe. A falta de interesse que o filme provoca é oriunda dessa sensação que o filme provoca, de uma vontade muito explícita de não se posicionar a respeito do que gostaria de apresentar; na dúvida, o que percebemos é um filme medroso. 

Falta coragem mesmo para que as escolhas sejam tomadas, e bancadas por Manolo Caro, que parece não ter qualquer experiência para o trabalho, quando na verdade ele tem muitos trabalhos antes deste título, incluindo a versão mexicana do onipresente Perfeitos Desconhecidos. Então a conclusão que chegamos é de que existe sim uma tentativa de desagradar o menor grupo possível de pessoas, entregando um material inofensivo. O custo dessa escolha é entregar um material sem personalidade no contexto geral, mas que tentou investir em algo. Festa no Covil parece cumprir a muitas obrigações que acabam fazendo do produto um título sem vida, que em sua falta de ambição acaba por mostrar o resultado de quem não se posiciona. 

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Miguel Valverde, a criança que protagoniza o filme, é, na falta de uma expressão melhor, inexperiente. Isso significa que ele até consegue demonstrar algo genuíno vez por outra, mas no geral trata-se de uma presença sem qualquer carisma, para um personagem que não é bem desenvolvido. Particularmente em Festa no Covil esse dado diminui os valores que o filme poderia ter conseguido, e sim, uma interpretação derruba ainda mais o filme como um todo, porque toda a força estética que o filme poderia explorar, é jogada no colo de seu protagonista, o que é uma escolha muito desastrosa. Manuel Garcia-Rulfo é o oposto, um jovem ator em momento de ascensão, que aqui agarra uma ótima oportunidade como o pai traficante do protagonista, cujo magnetismo necessário é conseguido pela interpretação do ator, que teria interesse em hipnotizar a plateia. 

O que impede o ator de crescer é o material que se tem em mãos, um filme cheio de pontas soltas, repleto de personagens confusos, com um tempo de arte incompreensível. Há uma compreensão coletiva de que Festa no Covil não tenta extrair o melhor de cada uma de suas partes em separado, e o que temos não é burocrático, e sim um desperdício do tempo da realização e da atenção do público. O que poderia ser mais uma história vista pelos olhos de uma criança (no caso, uma visão alucinante a respeito do tráfico de drogas, cheia de imaginação), acaba tendo muito mais ausência criativa, que cria uns momentos bizarros soltos no roteiro. Uma criança que raspa a cabeça, a obsessão por hipopótamos, questões ligadas ao racismo, são elementos demais que não tem qualquer aproveitamento. Estão na tela como poderiam não estar, simples assim. 

Um grande momento

O assustador plano final

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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