- Gênero: Animação, Documentário
- Direção: Jonas Poher Rasmussen
- Roteiro: Jonas Poher Rasmussen
- Duração: 83 minutos
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Acessar o passado, reconhecer-se, assumir-se, tomar para si a sua história e contá-la do jeito que bem entender. Flee – Nenhum Lugar Para Chamar de Lar não é apenas o filme de Jonas Poher Rasmussen sobre seu amigo afegão refugiado, é a libertação de homem que passou a vida escondendo a sua verdade, fugindo de sua própria história. Sob o pseudônimo Amin Nawabi e sem a exposição de sua imagem, o documentado, pela primeira vez em sua vida, parece ir aos poucos se desvencilhando de uma desconfiança que ainda o acompanha.
Há vários fatores que auxiliam Amin nessa jornada rumo a suas origens e à coragem para expor suas cicatrizes. A mais evidente delas é a proteção que a animação lhe traz. Rasmussen constrói uma representação carismática, mas que não deixa de transmitir o desconforto inicial e a gradual confiança que o representado vai adquirindo no diálogo e no ambiente para alcançar passagens cada vez mais íntimas. Nesse jogo do real e do simulado, há o encontro com a liberdade: de ser e de criar.
Muito do discurso de Amin em Flee parece transbordar as fronteiras do possível. Sua narrativa, entrecortada por passagens comuns e facilmente identificáveis e outras nem tanto. Mas sabemos que a memória é aquilo que fazemos dela e como será uma memória se resolvemos não mais acessá-la? Escondê-la de tudo e de todos? O documentário de Rasmussen faz pensar o quanto é direito de Amin criar em sua história, o quanto é direito nosso acreditar que aquilo possa ser criação e o quanto há de involuntário em uma possível criação.
Fuga fala de várias questões dolorosas e profundas de pertencimento, identificação, sexualidade e aceitação. Coisa que ultrapassam inclusive as fronteiras do país que ele abandonou depois que que a guerra jihadista o obrigou a fazê-lo e a xenofobia o fez uma pessoa sem lugar de conforto. Amin encontrou na introversão sua segurança e quando Rasmussen consegue de certa maneira, e conosco como testemunha, ir quebrando essa concha, não há como não se envolver e emocionar.
Contando com flashes de contextualizações, o filme dedica-se quase exclusivamente a seu documentado. É dele o espaço para falar, para colocar para fora tudo aquilo que por muito tempo teve medo de falar, de expor. E é a sua hora de ser ouvido. Flee é sobre a possibilidade e a segurança de acessar o passado e as próprias feridas, revivê-las em um lugar onde elas não mais doam e sobre acolher aquele que tem a coragem de fazer isso.
Um grande momento
A mãe