Crítica | Festival

Meu Sangue Ferve por Você

Uma história de amor

(Meu Sangue Ferve por Você, BRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Musical
  • Direção: Paulo Machline
  • Roteiro: Roberto Vitorino, Homero Olivetto, Paulo Machline, Thiago Dottori
  • Elenco: Filipe Bragança, Giovana Cordeiro, Caco Ciocler, Emanuelle Araújo, Sidney Santiago Kuanza, Tânia Tôko, Pablo Morais, Sol Menezzes
  • Duração: 100 minutos

Sidney Magal é, sem dúvida, uma das figuras mais marcantes da música brasileira. Dono de uma voz potente, com uma presença de palco ímpar, marcada por coreografias sensuais e figurinos extravagantes, interpretou hits eternos do brega, como “Sandra Rosa Madalena, a Cigana”, “Tenho” e muitas outras. Para além de sua trajetória como artista, Magal é conhecido por sua simpatia e é gostoso ouvi-lo falando sobre sua vida. Quem assistiu ao documentário Me Chama Que Eu Vou, dirigido por Joana Mariani, sabe disso. Entre suas histórias, uma se destaca: a de sua paixão arrebatadora por Magali West, com quem é casado há mais de 40 anos. 

Com cara dessas conversas inacreditáveis que todo mundo diz que não existem, era natural que um dia o romance virasse filme. Inspirado na história do casal e tomando a liberdade de exagerar em muitos pontos, Paulo Machline, que também escreve o roteiro ao lado de Thiago Dottori, Homero Olivetto e Roberto Vitorino, levou às telas Meu Sangue Ferve por Você, aquilo que chamou de uma fábula magalesca. O material que tinha em mãos era interessante e o modo como resolveu apresentá-lo também. Abraçando a estética brega, o diretor cria uma comédia romântica musical, com direito a corpo de baile e números vistosos dos maiores sucessos de seu protagonista.

Os eventos floreados conseguem gerar e prender o interesse do espectador com elementos bem tradicionais. Ali estão o vilão, a mãe super protetora, o amigo (aqui primo) que vai sempre estar ao lado da mocinha e a prima invejosa; assim como as fases do romance com o encontro, diferença, união, afastamento e reencontro. Ou seja, segue-se a estrutura tradicional do subgênero. O que falta a Meu Sangue Ferve Por Você é uma amarração mais eficiente, o que dá ao resultado aquela aparência dos conteúdos fragmentados pensados para formatos seriados. 

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Há ainda a questão da irregularidade da atuação Filipe Bragança no papel de Magal, funcional em alguns momentos, exagerada em outros e, por vezes, apagada demais. Não era mesmo uma tarefa fácil. Embora seja muito esforçado e dedicado na recriação, é complexo replicar a força e a sensualidade do cantor. O casal se completa com Giovana Cordeiro no papel de Magali, numa atuação correta e com menos exigência, já que menos exposta na vida real. Personagens satélites se beneficiam com o carisma e são bem defendidos por Caco Ciocler, o melhor em cena como o empresário vilão; Emanuelle Araújo, a mãe; Sidney Santiago Kuanza, o primo; Tânia Tôko, a tia; e Pablo Morais, o ex-namorado.

Há, sim, bons momentos, embora alguns deles estejam deslocados do centro do filme, como a subtrama da prima e do ex-namorado, ou mesmo o ótimo número musical do empresário. Algumas situações conseguem encontrar a tensão e outras, emocionar. Apesar de todos os pesares, a história de Meu Sangue Ferve por Você é interessante e curiosa, ainda mais por se basear em um acontecimento real. Sem nenhuma pretensão de ser algo mais do que um produto de entretenimento, cumpre o que promete, apostando em um formato que sempre faz sucesso e reconhecendo a força das canções de Magal.

Um grande momento
Caco Ciocler e “Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito”

[47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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