Crítica | Outras metragens

Remendo

Libertação

(Remendo, BRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Roger Ghil (GG)
  • Roteiro: Roger Ghil (GG)
  • Elenco: Elídio Netto, Markus Konká, Eliete Miranda, Royce Luckessy, Leia Rodrigues, Jordan Rodrigues, Pedro Henrique
  • Duração: 20 minutos

Existe um desassossego no material visual e sonoro produzido para Remendo que, em similares, não havia batido em mim antes. Não sei muito bem como nomear o cinema que vem sendo feito de maneira mais direta por autores como Ary Rosa e Glenda Nicácio (acho que, nesse caso, o ‘cinema de afeto’ não caiba), explorando um olhar de possibilidade mais popular, de gênero, e até mesmo encarando tais cacofonias como parte integrante do discurso. O que sei é que Roger Ghil (GG) se comunica com essa textura de maneira tão deliberadamente escrachada, explorando não apenas os limites da narrativa mas principalmente do plano, que seu discurso chegou aqui. 

É uma fissura possível no meio de um caos de vozes, imagens e intenções que acaba por rasgar suas demandas, para conseguir expandir seu coletivo. Também é visto aqui uma ambição estética que justifica toda histeria; são registros de intensidade clara, mas que são adornados com sustentação de seu canal imagético. Remendo é composto de espasmos, de sua cartografia de planos, de seus personagens eloquentes, de sua efusividade sincera. Não são denominados como tal para conseguir abarcar um recorte social, mas estão todos naquele recorte costurando as possíveis fabulações entre seus fragmentos.

São elipses inseridas na democracia do plano, que perturbam a narrativa e tornam a experiência ainda mais suculenta, e arriscada, porque a rigor, esse modelo de roteiro se complementa da palavra falada. GG busca a disruptura dentro da proposição vigente, isso eleva sua produção a um estado de objeto levemente não-identificado, mas pleno das capacidades aplicadas. A balbúrdia sob a qual Remendo até pode ser classificado está na preparação de sua banda sonora, seja ela no áudio ambiente ou no que é produzido pelos tipos. A organização de suas ideias é coerente, no entanto, com o que o filme cria nessa sinfonia de ruídos. 

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É uma história simples, de comunicação fácil, que se desenha de maneira menos óbvia pelo que GG realiza, dando contornos sócio-políticos a um roteiro clássico. A forma como ele impregna cada momento de seu filme com vibração estético-corporal é uma prova de que a energia promulgada ali é essencial para que seu conceito ganhe foco. É uma ideia de trabalho físico que se desenvolve através da relação entre esse homem, o que ele faz, como a sociedade o vê e seu desejo recôndito de libertação dos códigos vigentes. Uma provocação disfarçada de incômodo, ou vice versa? Provavelmente os dois estão inseridos em Remendo.

Um grande momento

Despedida na moto

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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