Crítica | Streaming e VoD

Até a próxima vez

Podia ter acontecido no The Sims

(Hasta que nos volvamos a encontrar, ESP, PER, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Romance
  • Direção: Bruno Ascenzo
  • Roteiro: Bruno Ascenzo
  • Elenco: Maxi Iglesias, Stephanie Cayo, Carlos Carlín
  • Duração: 96 minutos

Imagino que você que me lê já tenha jogado The Sims. Ou que seja pelo menos familiarizado com a ideia do game. Caso contrário, explico. The Sims é um jogo de simulação no qual você tem o poder de criar personagens, casas, famílias, e construir estilos de vida inteiros numa cidade virtual. Dá para ir para a faculdade, conseguir diversos tipos de empregos e carreiras, ir a festas, flertar e até se casar e ter filhos. Confesso que o jogo nunca foi muito minha praia. Sempre achei meio chata a ideia de estar fazendo alguma atividade no jogo e do nada meu personagem ter que parar tudo para ir ao banheiro, beber água ou dormir no chão da balada pq tá cansado de trabalhar. Nesses quesitos, a vida real basta. 

Mas tem uma coisa que a comunidade de jogadores de The Sims faz que sempre chamou minha atenção. São pequenos filmes. Pois é, tem gente que cria enredos complexos entre os personagens, grava as cenas do jogo e depois coloca uma dublagem por cima. Tem de tudo. Telenovela dramática, filme de espionagem, comédias absurdas. E esses filmes são divertidíssimos, cultura internética de qualidade.

Acontece que o novo lançamento da Netflix, o filme Até a Próxima Vez, dirigido pelo peruano Bruno Ascenzo, em muito me lembrou uma história que se passaria no The Sims. Não pelas partes boas e criativas, como você já deve imaginar. É que os personagens são tão falsos e os diálogos tão mal escritos e previsíveis que o filme poderia ser falado inteiramente na língua dos avatares do jogo (um idioma fictício formado por sons aleatórios, tipo “abiu yehuy knatra!”) e eu garanto que o filme continuaria o mesmo. Os ambientes e a decoração também me lembraram muito o jogo. Uma mistura de estética tokstok-novela-das-7 com design de interiores do Pinterest e gráfico de videogame mal renderizado. 

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E que enredo, viu? Um arquiteto super-bem-sucedido, workaholic estilo coach de negócios viaja para o Peru em razão da construção de um novo hotel 7 estrelas que ele pretende enfiar no meio da cidade histórica de Cusco. Chegando lá, o playboy se apaixona por uma artista-branca-de-dread-aventureira (foi chocante ver uma manic pixie dream girl assim tão estereotipada em pleno 2022) e o resto você já deve imaginar, né? Terrível. Tudo filmado com um look meio filtro de Instagram 2012. Sem falar da representação idiotizante da cultura indígena quéchua, que só foi inserida na narrativa como um pano de fundo para que os personagens brancos brilhassem e pagassem de desconstruídos durante suas jornadas de autoconhecimento nos Andes. Parece um filme que um americano bem intencionado (talvez nem isso) mas mal instruído gravaria na América Latina nos anos 60 ou 70.

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Marcus Benjamin Figueredo

Marcus Benjamin Figueredo é corintiano, cineasta e jornalista, filho da UnB. Também é pesquisador e já atuou como montador de clipes musicais, produtor, curador e membro do júri em festivais de cinema universitário e roteiro. Gosta de sinuca.
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