Crítica | Streaming e VoD

Kate

Pacote luxuoso

(Kate, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Cedric Nicolas-Troyan
  • Roteiro: Umair Aleem
  • Elenco: Mary Elizabeth Winstead, Woody Harrelson, Miku Martineau, Tadanobu Asano, Jun Kunimura, Michiel Huisman, Miyavi, Mari Yamamoto
  • Duração: 106 minutos

Os produtos Netflix se dividem em dois grupos na seção de entretenimento: existe a prateleira dos filmes baratinhos, com o qual não conseguimos criar qualquer empatia, são descartáveis e amorfos (Ascensão do Cisne Negro), e tem os produtos mais bem acabados, com alguma camada afetiva e apuro técnico acima da média. Esse é caso de Kate, produção caprichada ambientada no mais moderno Japão e que serve de pano de fundo para uma colcha de vingança familiar como só o Oriente nos acostumou a encontrar no cinema; não demora para que o filme tenha conseguido fazer sentido pictórico, tendo em vista sua base de leitura.

O diretor Cedric Nicolas-Troyan, profissional experimentado dos efeitos visuais, tem aqui uma bem-vinda segunda chance de se provar, após o burocrático O Caçador e a Rainha de Gelo, saindo de um material feito para as massas sem qualquer pronunciamento estético diferenciado. Aqui ele conta com ajuda especializada no que seu filme comporta, a produção executiva de David Leitch, o homem por trás da criação de John Wick, Atômica e Deadpool 2, ou seja, com as credenciais da produção expostas, sabemos qual lugar ‘Kate’ busca. Sua realização, se não alcança a excelência para criar uma filmografia particular, cumpre o seu papel com folgas ao elevar o nível do material entregue pelo streaming.

Kate (2021)
© Jasin Boland / Netflix

Poderia ser acusado de burocrática essa sua radical mudança de rumo na carreira, mas o filme não apresenta suas armas de maneira leviana ou vazia. Há uma procura por personalidade, uma tentativa de construção de um universo, uma busca pelo apuro imagético. Ainda que seus códigos não sejam compostos por algum tipo de inventividade e/ou descoberta formal, o que é tentado em cena não compõe um quadro de normalidade dentro do thriller de ação tradicional. Se filmes como o já citado Atômica, além de Lucy, são inspirações visuais, geográficas e sonoras, trazendo à tona uma certa comodidade, ainda assim seu lugar ainda não comporta o suficiente para ser classificado como enfadonho em sua influência.

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Sua textura é esperada, tendo em vista os nomes envolvidos, e o espaço cênico escolhido como palco. Muitas luzes neon, muita coreografia filmada em esquema acrobático, muita violência gráfica non stop, tendo consciência desse grupo de situações, cobrar alguma diferença é indevido; se o espectador ainda encara esse produto com empolgação, o filme cai com perfeição. Mesmo a relação narrativa desenhada pelo roteiro escrito por Umair Aleem não tem muita diferença para quem é fã do gênero, mas a montagem das experientes Elisabet Ronaldsdóttir e Sandra Montiel garantem um ritmo inegável, daqueles cuja empolgação soa sempre genuína.

Kate
© Jasin Boland / Netflix

Na cabeceira de Kate, está uma atriz responsável por mais da metade da conexão popular – Mary Elizabeth Winstead ainda é muito subestimada. Por onde começar? Scott Pilgrim contra o Mundo, Smashed, O Maravilhoso Agora, Rua Cloverfield, 10, Nina… ufa, é muito fácil se apaixonar pela beleza de atriz que Winstead é. Muito intensa, com um grau de envolvimento emocional muito acima da média, com entendimento de personagem sempre na medida, a jovem atriz já não é mais uma promessa porque literalmente já se provou. Em Kate, suas capacidades foram ampliadas e o filme nem a explora além do necessário; conseguimos perceber suas falhas na ação, sua trava em determinados momentos, o que configura a humanidade de uma mulher-máquina.

É um combo naturalmente sedutor, para quem espera um filme com um nível de requinte dentro do esperado para uma produção feita para exportação da Netflix, sem contar com uma excelência que coube a algo como Army of the Dead mas bem longe da indigência que comporta em alguns produtos. Kate fica acima da média, ainda que não muito, e também fala sobre sororidade e um mundo essencialmente masculino que tenta se autodestruir, com um visual cuja beleza salta aos olhos em cenas especiais inspiradas em mangás e animes, como a da luta no restaurante e a perseguição nos becos. Tudo feito sob medida para um público cada vez mais exigente.

Um grande momento
Kate speed racer

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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