- Gênero: Drama
- Direção: Vladimir Seixas
- Roteiro: Vladimir Seixas
- Elenco: Valéria Monã, Thiago Justino, Sarito Rodrigues, Mônica Francisco, Fábio França
- Duração: 18 minutos
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Existe algo de onírico na representação do amor romântico que é apresentado em Linda do Rosário, uma das produções mais surpreendentes apresentadas no Panorama desse ano. Não é exatamente como se o filme escapasse de algum naturalismo para embarcar na fantasia, mas de revestir de uma imagem de sonho esse olhar ansioso do desejo. Como se estivéssemos diante de algo que, de tão acalentado, ocupasse então um outro patamar de conotação, chegando até uma representação fabular da imagem. Não é como se o sonho estivesse dissociado da realidade, mas como se ele fosse parte integrante da mesma, que culmina em um estado de comunhão de delírios.
Esse estado difuso de sensações que se reflete nessa qualidade de imagens, na dualidade das mesmas entre o que é possível e o imaginário, nasce do evento real que inspirou o curta-metragem, dirigido por Vladimir Seixas (o mesmo de Rolê: Histórias dos Rolezinhos). Nesse sentido, ficam claras na disposição de como filmar seu apreço por essa bem-vinda indecisão, uma dualidade entre o ser ficcional que pode se render ao sonho, e a crueza da realidade. É daí que surge esse confronto que o filme apoia, de imagens que promovem esse encontro entre o que é pragmático e uma visão em contexto sem concretude. Como se fôssemos tragados para o sonho, no meio do horror social de apagamentos diários que podem ser reforçados pela melancolia – ou apagados pelo desejo.
Valéria Monã e Thiago Justino representam esse retorno a algo que não se imaginava mais possível, a realização do amor em suas inúmeras vertentes. Ela surgindo no cinema como um rosto a ser descoberto, ele mostrando que foi preterido em toda a sua carreira, mas que não perderam a vontade de mostrar, no auge de suas forças, o que o audiovisual abdicou ao não olhar com atenção para seus corpos periféricos. Em Linda do Rosário, eles explodem a cada nova captura de seus rostos, e particularmente Monã exemplifica mais uma vez porque o país é um celeiro infinito de atrizes sensacionais. Sua doação emocional para o que vemos está à altura do que o filme enxerga na representação que faz.
A fotografia de Bento Marzo atesta essa característica da obra, de manter os laços atados entre duas propostas contrárias. O filme passeia por esse lugar da imagem mais crua até alcançar o hotel onde os personagens se encontram, mergulhado em uma disposição menos explícita. Ali, vale o mistério das imagens, a disposição para a névoa com o qual esses dois personagens mergulham, talvez para fugir de uma realidade onde são menos exuberantes que ali. A partir da chegada nesse espaço enevoado, o que conta é a concretização de todos os sonhos, é alcançar o patamar do desconhecido e se deixar envolver por essa atmosfera delirante.
Filmes como Linda do Rosário, além da evidente primazia técnica, alcança alguns pólos de discussão narrativa que vão igualmente no cerne moral da história, e de como tais pessoas e recortes precisam do naturalismo a seu favor. Seixas trata de subverter essa necessidade com o jogo corporal que estabelece entre seus atores, com o flerte com a fantasia exuberante que se transforma através das imagens. O plot final da produção não será entregue, mas no fim das contas ele funciona mais como dispositivo para falar sobre o esquecimento do que exatamente emular as muitas formas de representar o amor, que é amplificado pelo que assistimos aqui. Com ousadia, mas sem corromper o principal campo de comunicação, e através de tamanha beleza com o amor mais possível diante do tempo, fica óbvio de perceber qual a espinha dorsal aqui, e em como ela é funciona como um facho de luz dentro da escuridão que tema representa.
Um grande momento
Na cama, olhando para nós