Crítica | Streaming e VoD

Lulli

Sinal amarelo para Larissa

(Lulli, BRA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: César Rodrigues
  • Roteiro: Renato Fagundes, Thalita Rebouças
  • Elenco: Larissa Manoela, Sérgio Malheiros, Yara Charry, Amanda de Godoi, Vinicius Redd, Nicholas Ahnert, Paula Possani
  • Duração: 90 minutos

Larissa Manoela na frente de uma estreia da Netflix nem é mais novidade, esse é o segundo só esse ano (‘Diários de Intercâmbio‘ estreou faz seis meses), e com certeza esse vai repetir o sucesso dos anteriores, vide a fanbase da mocinha. O que começa a ficar questionável é porque os produtos estrelados pela jovem estrela não conseguem acompanhar as evidentes qualidades que a própria apresenta e nem é de hoje. Fica a dúvida, mediante o poderio de sua intérprete e da máquina que ela movimenta ao seu redor: porque ‘Lulli’, tais quais a maior parte de seus filmes, continuam subestimando os predicados que sua estrela não cansa de mostrar?

Uma das respostas talvez seja a de que seus filmes continuam sendo veículos para Larissa, e não peças cinematográficas independentes de sua protagonista. Construídos para abrigar as qualidades da menina que o Brasil viu crescer na frente da telinha, os filmes não se bastam por si só. Na verdade, são filmes criados exclusivamente para atender sua multidão de fãs, sem qualquer preocupação com alguma fatia extra. Agradam ao séquito que se dispõem a estar na frente de seus produtos e não criam vida independente; se isso era válido em algum sentido, essa lógica tem cada vez menos validade, com o risco dela não conseguir amadurecer como intérprete. 

Lulli
Suzanna Tierie / Netflix

O que vemos em ‘Lulli’ é uma atriz de potencial superior a seu veículo com muita sobra, no que tangencia narrativa e qualidade estética – se é que existe alguma. Ainda que o filme seja estacionado numa premissa adaptada de ‘Do que as Mulheres Gostam‘, aquele hit com Mel Gibson de 20 anos atrás onde após um acidente ele passava a ouvir o pensamento das mulheres, nada deveria impedir o filme a evocar uma linha direção ao menos competente, o que nem ameaça acontecer aqui. Não se trata apenas de uma produção acanhada, mas precisamente uma desleixada. 

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César Rodrigues, que tem inúmeros hits no currículo tais como ‘Minha Mãe é uma Peça 2’ e ‘Vai que Cola‘, já tinha trabalhado com Larissa em ‘Modo Avião‘, e aqui está ligado em preguiçoso piloto automático que deixa correr solto muitos planos mal decupados, enquadramentos descuidados sem um foco definido, com a impressão de que se tratava de um produto corriqueiro sem esforço de produção. Isso é desrespeitoso inclusive com os fãs para qual o filme é feito, que recebem uma produção não apenas pouco ambiciosa. A ideia do filme, embora sem originalidade, deveria render uma produção menos barata que essa, com algum capricho, pelo menos. A montagem também é determinante para culpabilizar o resultado de ‘Lulli’, porque o filme não possui ritmo nem consegue organizar seu tempo cênico de maneira crível. 

Lulli
Suzanna Tierie / Netflix

Isso nem combina com o próprio Rodrigues, que sempre primou por blockbusters de mercado minimamente competentes, pensados imageticamente com alguma expressividade, e aqui entrega um material corriqueiro, sem competência ou relevância. Não é porque estamos diante de um longa que não pretenda exibir rigor estético, que o público precisa ser diminuído. Idem ao roteiro assinado por Thalita Rebouças e Renato Fagundes, que suplanta situações importantes para o andamento da narrativa, deixando as possibilidades cômicas inferiorizadas, quase como se fosse vergonhoso ser divertido, e também não alcança ênfase nos segmentos românticos. 

O filme ainda tenta apostar de maneira meio equivocada em vários momentos engajados socialmente, como uma ideia de feminismo retirada do fundo de um baú que o filme nunca parece interessado em enfocar ou abraçar de fato, além de um aceno aos LGBTQIA+ igualmente forçado, com personagens sendo colocados à prova para além suas orientações. O problema é que o filme não encontra uma forma orgânica de desdobrar esses lados, mantendo suas soluções narrativas na base da correria, como que exclusivamente inseridas para ocupar um espaço de discussão… que não é discutido!, apenas jogado na direção do espectador.

Além de Larissa Manoela, outros dois ótimos atores jovens estão pagando um preço de não ter bons personagens e situações para demonstrar seus talentos. Sergio Malheiros, que cresceu na tv e esteve em ‘Aspirantes‘, e Amanda de Godoi, que brilhou em duas temporadas de ‘Malhação’, mereciam um material à sua altura, assim como os experientes Guilherme Fontes e Luciana Braga. Infelizmente estão todos à mercê da falta de cuidado generalizado que envolve ‘Lulli’, uma ideia requentada que poderia ser um acerto, e termina muito aquém das possibilidades. O que nos torna a refletir sobre o porquê das produções estreladas por Larissa não darem muitos passos à frente

Um grande momento
Sororidade

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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