- Gênero: Animação
- Direção: Mark A.Z. Dippé, Youngki Lee, Phil Nibbelink, Matt Philip Whelan
- Roteiro: Byron Kavanagh
- Duração: 88 minutos
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Há quase exato 1 ano atrás, a Netflix disponibilizava em sua plataforma um daqueles imensos sucessos inesperados, pela modéstia do projeto e de seu alcance imaginado. EncrenCão foi uma animação que parece ter encontrado o lugar certo na hora certa, em situação de pandemia ainda em alta, vacinação começando a ampliar no Brasil, o filme foi um hit durante semanas e atingiu famílias (ok, crianças principalmente) com seu carisma. Espera-se o mesmo com Marmaduke, que estreia hoje e não tem muito a oferecer que não tenha sido feito no ano passado por seu primo canino. Também aqui temos um projeto pequeno, que pretende alcançar o público infantil ávido por novidades e que não dão trégua a Carinha de Anjo, Chiquititas e As Aventuras de Poliana, sucessos ininterruptos por lá.
O personagem egresso de tirinhas de jornal nos anos 50, teve imenso sucesso em suas aventuras originais assinadas por Brad Anderson. Há 12 anos atrás, uma produção live action estrelada por Owen Wilson (sempre ele…) foi lançada sem grande alarde. Essa nova versão é assinada por Mark Dippé, figura que tem uma passagem de sucesso por inúmeras equipes de efeitos especiais de sucessos do calibre de O Exterminador do Futuro 2, Ghost, O Segredo do Abismo e recentemente Águas Rasas, e que estreou na direção com um enorme fracasso, a adaptação do HQ ‘Spawn’. Talvez isso tenha impedido qualquer segunda chance sua em longas que não os animados, e ele passou a dirigir animações de gosto duvidoso, tais como longas do Garfield – não os de cinema produzidos pela Fox.
Logo, esse Marmaduke novo, pra ele, passa longe da modéstia; estar na maior plataforma de streaming do mundo com uma produção que irá fazer sucesso praticamente garantido é uma forma de voltar a sonhar. Como é produzido com foco principal em crianças pequenas, o que o filme não consegue enquanto realização estética não será um problema em questão já que seu público está ligado no colorido das imagens e na ação ininterrupta, além dos valores familiares e universais aqui passados. Para isso tudo, o longa se presta – irá prender as crianças na frente da TV (talvez por várias vezes até), e fornece aos pais a chance de discutir com os pequeninos lições sadias de como viver em família, proteger os seus e dar novas chances quando erramos. Esse ponto é garantido e a Netflix pode respirar aliviada em marcá-los.
A análise em questão precisa ser feita, no entanto. E esse filme novo, como já aventado, não entrega muita coisa a quem exige minimamente. Em um mundo onde… ok, nem irei citar Disney ou Pixar, mas a própria Netflix bancou algo como A Caminho da Lua, a Sony produz algo como A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, onde a Dinamarca nos lega Flee, é complexo aceitar tamanha simplicidade, pra ser simpático e comedido. De traços bem rudimentares, a animação técnica mesmo vista aqui não passa ao largo do que seria aceitável, com “efeitos” bem antiquados, como aqueles onde nem todos os elementos de cada quadro se movem. Onde recortes são feitos por cima de cena, dando a impressão de um quadro aplicado sobre o outro. Onde não há sutileza na hora de concluir seus planos, e acaba indo para um lado mais grosseiro de acabamento – ou melhor, sem acabamento.
Na narrativa propriamente dita, Marmaduke encara dois lados distintos: ou é infantil, quase didático, ou sai dos trilhos e alcança níveis de grosseria bem complexos. Uma sequência em particular, de desdobramentos bem largos que ocupam boa parte da narrativa, envolvendo flatulência e desarranjo intestinal de um cachorro, chega a ultrapassar os limites de qualquer bom gosto. Lógico, se tratam de cenas cômicas e o público brasileiro, no geral, tem bastante fluência nessa seara, digamos, então logo que muitas passagens serão bem engraçadas para diferentes tipos de público. Particularmente, tive a sensação que os roteiristas de ‘O Professor Aloprado 2’, que escreveram situações de mau gosto tão extremo, pareceram servir de consultoria, em determinados momentos.
Mas não devemos apagar de Marmaduke suas qualidades, ainda que circunstanciais, diante do todo. Seu protagonista é verdadeiramente adorável, embora não seja mais explorado, e sim as situações onde ele precisa transmutar da sua natureza. A sua família humana é assustadoramente verdadeira, inclusive nos corpos nada padronizados de pai e mãe, principalmente a personagem feminina, mais próxima de uma americana típica do que uma Jennifer Aniston. Os coadjuvantes caninos do concurso de cães são adoráveis em seus detalhes, ou seja, não é uma produção abjeta, onde a qualidade passa longe. É fraco, sem dúvida, mas ele encontrará seu lugar de apreciação entre justamente o público para o qual foi pensado e destinado.
Um grande momento
O confronto entre Marmaduke e Zeus no concurso internacional