Suspense
Direção: Drew Goddard
Elenco: Jeff Bridges, Cynthia Erivo, Dakota Johnson, Jon Hamm, Chris Hemsworth, Cailee Spaeny, Lewis Pullman, Nick Offerman, Xavier Dolan, Shea Whigham, Mark O’Brien, Charles Halford, Jim O’Heir
Roteiro: Drew Goddard
Duração: 141 min.
Nota: 6
Drew Goddard tem apenas dois longas-metragens em sua filmografia, mas já demonstrou uma particularidade: ele gosta de explorar aquilo que está por trás do próprio cinema. Se em O Segredo da Cabana vai atrás do terror slasher, das traquitanas sobrenaturais; em Maus Momentos no Hotel Royale quer olhar para o novo cinema sangrento de máfia e vingança.
Seus espelhos falsos agora estão nos quartos de um decadente hotel onde pessoas que não são o que parecem se encontram. O filme brinca o tempo todo com a sensação de estranhamento, desenvolvendo-se pela desconfiança. Os personagens são ao mesmo tempo carismáticos e pouco críveis. Goddard aposta na dualidade: padre Flynn, Sullivan, Darlene, Emily e Miles, cada um com seu objetivo, transitam entre suas criações sociais – na presença dos outros – e reais personalidades – dentro de seus quartos.
Tudo é propositalmente artificial, o que deixa o longa ainda mais interessante. A dualidade presente nos personagens é também uma das características do próprio hotel, que foi construído na fronteira entre dois estados. Ao mesmo tempo está em Nevada e na Califórnia: de um lado o sonho, de outro a aposta. A mescla de histórias está em todas as partes desse ambiente inspirado no hotel que pertencia a ninguém menos que Frank Sinatra, Dean Martin e ao mafioso Sam Giancana.
As revelações do roteiro não são imediatas, principalmente aquela que leva à transformação da trama. Quando as personalidades parecem já ajustadas ao espaço e à dinâmica do hotel, há uma invasão externa, com a chegada de um líder de seita ao estilo Charles Manson. A associação com a realidade histórica é imediata e direciona à vingança que costuma estar por trás dos filmes que Goddard investiga aqui.
Ao misturar sequestro e resgate, pretensões artísticas, trauma de guerra, caça ao tesouro e seita hippie, Maus Momentos no Hotel Royale faz uma salada divertida, que deve muito ao desenho de produção inspirado de Martin Whist e às atuações, em especial de Jeff Bridges e Cynthia Erivo (vale ainda uma atenção especial às pontas de Nick Offerman e Xavier Dolan). A fotografia de Seamus McGarvey, principalmente em exteriores escuros, também é importante para a definição do clima e a ambientação de época, assim como a trilha sonora de Michael Giacchino.
Embora siga um caminho tecnicamente seguro e saiba se construir na relação com o espectador, o longa tem seus poréns. A quebra para o terceiro ato, quando toda a dinâmica de revelação dá margem à explicitação prolongada, é o maior deles. A violência, antes ocasional ou restrita a um tempo passado, toma conta do filme. Porém, não é nada que não consiga se adequar com o tempo e a ajuda da presença narcisista do personagem de Chris Hemsworth.
Ainda que longe da perfeição, Maus Momentos no Hotel Royale consegue reunir muita coisa que interessa. A construção do universo casa bem com a exploração do próprio cinema e, mais, com a possibilidade de olhar para uma época, separar seus tipos, com traumas e determinações específicos, e colocar todos juntos em um mesmo lugar.
O novo filme de Drew Goddard não estreou nos cinemas brasileiros e chega direto no Telecine Play. É uma boa pedida para os amantes do gênero, que vão encontrar muitas referências pelo caminho, e deve agradar àqueles que gostam de mergulhar nas relações e dissimulações que estão por trás da constituição de uma sociedade como a norte-americana.
Um Grande Momento:
Darlene canta.
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