Crítica | Streaming e VoD

Esposa de Aluguel

Modéstia romântica

(Esposa de Aluguel, BRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Romance
  • Direção: Cris D'Amato
  • Roteiro: Luanna Guimarães
  • Elenco: Caio Castro, Thati Lopes, Patrycia Travassos, Polliana Aleixo, Mariana Xavier, Fafá Rennó, Bruna Louise, Arthur Kohl, Flávio Pardal, Danielle Winits
  • Duração: 100 minutos

Comédias românticas nacionais da Netflix não são necessariamente um sinônimo de qualidade, isso já sabemos. Produtos como Carnaval e Ricos de Amor foram tentativas válidas de emplacar sucessos, e que do ponto de vista comercial até foram alcançados; o segundo inclusive já ganhou uma continuação, que irá estrear em breve. Ainda assim, eram produtos sem muitos pontos atrativos, desenvolvidos para um público pouco exigente. O atual sucesso lá da Netflix, esse Esposa de Aluguel, faz a coisa mais certa para um produto desenvolvido para consumo em larga escala: não tenta ser maior do que é. Eficiente e modesto, o longa dirigido por Cris D’Amato alcança seus objetivos de maneira honesta. 

Vale lembrar que D’Amato vem se oxigenando na Netflix. Ano passado lançou Pai em Dobro, que já tinha mostrado um potencial que o público tinha visto apenas em flashes, no passado. Dessa vez, ela mostra que o timing que tantas vezes lhe faltou em filmes como Linda de Morrer agora está presente, nunca visto anteriormente. Com o roteiro de Luanna Guimarães estreando na assinatura solo, Esposa de Aluguel não está fazendo sucesso à toa. Sua premissa simples e seu toque sem muitos regimentos, a produção não conseguiu esse hit à toa. Como muitas produções hoje sim, o filme parece um robozinho disposto a não deixar nenhuma rusga no caminho, ainda que passe longe da perfeição.

O filme caberia em qualquer sessão matutina da tv aberta, agradam em cheio a todos os públicos. Já vimos Sandra Bullock fazendo esse personagem antes, e isso não se configura como um problema, exatamente porque Esposa de Aluguel não finge ser uma produção original. Os clichês tomam conta, conseguimos acertar várias viradinhas da narrativa, mas é exatamente essa a função do filme, agora, mostrar que a inércia deles não se transforma em equívoco de ritmo. Todos no elenco se mostram muito à vontade em cena, porque eles precisam continuar contando essa história simpática e atrevida.

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Esposa de Aluguel
Alisson Louback/Netflix

Do ponto de vista da autoria, Esposa de Aluguel é um filme que nem tenta ser muito evidenciado. Mas no resultado final, a produção é acima da média, levando em consideração o histórico de D’Amato. Vale pelo registro de tradicional comédia romântica que o filme emprega nas relações entre esse personagens, que suplanta algumas faltas no roteiro. Na verdade, não sei bem dizer se são falhas propriamente ditas ou leviandades. Explica-se: os maridos das irmãs do protagonista vivido por Caio Castro nem aparecem em cena, e no único momento que ocorreu, eles nem tinham texto – e isso é só um exemplo. É tudo muito sem requinte, mas ao mesmo tempo não falta charme ao filme, que vai sendo construído ao redor do que a própria produção é capaz de ofertar. 

O casal vivido por Castro e Thati Lopes (de Diários de Intercâmbio) vai se interessando um pelo outro em uma pegada muito branda do filme. O filme traduz isso subindo a temperatura muito devagar, o que é crucial para que entendamos o que acontece em cena, como uma resposta dos personagens aos seus sentimentos. A falta de química entre ambos poderia até se imaginar um defeito, mas isso também é um bem-vindo processo de descobertas futuras – construir a química literalmente na frente do espectador. Então mesmo que a comédia não funcione sempre, e que nenhum outro gatilho exista para contar essa história muito centrada, Esposa de Aluguel não deixa de funcionar na força do carisma coletivo. 

E mais uma vez merece um comentário extra a presença de Thati Lopes em qualquer que seja o elenco, de qualquer que seja o filme. Aqui, o desafio para atriz é sair do caráter histriônico excessivo para dar lugar a um ser humano comum, dotado de idiossincrasias conflitantes. Não é o caso de ser um personagem muito bem elaborado; não, não é, mas também não é um desastre que não possa ser salvo. E Castro mais uma vez surpreende, inclusive parecendo que os comentários dele sobre o pagamento das contas dos restaurantes era um promocional para cá. Esposa de Aluguel nos convence de sua eficiência em entreter, além da forma muito direta com que o filme discursa e da forma como nos identificamos com algumas frases, aqui e ali, que fazem uma produção dessas valerem a pena. 

Um grande momento

A pirraça de Luiz com a mãe

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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