Crítica | Festival

Meu Nome É Bagdá

Onde ela quiser

(Meu Nome É Bagdá, BRA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Caru Alves de Souza
  • Roteiro: Caru Alves de Souza, Josefina Trotta
  • Elenco: Grace Orsato, Karina Buhr, Marie Maymone, Helena Luz, Gilda Nomacce, Paulette Pink, Emílio Serrano, William Costa, João Paulo Bienermann, Nick Batista
  • Duração: 99 minutos

Algo mudou no cinema e foi lindo ver isso acontecendo. Assim que a câmeras foram tomadas pelas mulheres, uma revolução aconteceu nas narrativas. Novas histórias, com outro aprofundamento e várias perspectivas começaram a ser contadas. Meu Nome É Bagdá é uma dessas histórias. 

Dirigido por Caru Alves de Souza, o filme que foi escolhido como o melhor da Mostra Generation na última Berlinale, e abriu o Festival Sesc Melhores Filmes é um retrato cru, mas ao mesmo tempo poético da nova geração. Além de ter a força da mulher, aqui das jovens mulheres, encontrou um caminho interessante para costurar sua trama ao mesclar abordagem convencional e intervenções performáticas na construção dos personagens. Cenas cotidianas e números musicais se confundem e se pontuam.

Meu Nome É Bagdá, de Caru Alves de Souza

Caru sabe como dar voz àqueles corpos, seja quando deslizam pelas ruas e pistas em seus skates ou quando dançam e interagem. A percepção aguçada é adequada à linguagem estabelecida pelas novas gerações, principal público do filme. As intromissões em forma de delírio dançado mais do que expor sentimentos acessam a uma comunicação toda estabelecida na performance, nessa marcação potente do indivíduo no tempo.

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Bagdá, vivida pela estreante Grace Orsato, é mais um desses corpos. Um corpo que sofre e revida, que ocupa espaços não ocupados e se define. Logo nas primeiras cenas, é ele que se evidencia. Imagens de uma festa cheia de outros corpos e da solidão que a segue pela corredores de uma escola vazia trazem o limite ultrapassado, a confiança perdida, a raiva. Foda-se! Há muitas coisas não óbvias ditas nessa primeira sequência de Meu Nome É Bagdá. Há identificação, se pensarmos em contexto, e habilidade, se o foco for a construção narrativa, o uso das imagens, luzes e sons.

Meu Nome É Bagdá, de Caru Alves de Souza

Se ali temos a personagem, o que vem a seguir se aprofunda em sua trama individual. Quem está por perto, como ela se apresenta ao mundo e onde gosta de estar. Temas como a padronização da beleza, sororidade, família, infância, diversidade e o ser mulher estão salpicados pelo filme, que segue no ritmo dos passeios de skate. São eles que marcam a manutenção da opressão e, ao mesmo tempo, trazem a mudança.

Uma mudança que vai além da história contada e chega ao poder contar as histórias. O confronto na tela é o mesmo de fora dela, e aquelas que estavam sozinhas antes, num ambiente extremamente machista e misógino se encontram numa nova realidade, tomam para si o controle. Da união vem o confronto e do confronto a ocupação. Pode ser nas pistas de skate, mas é no cinema também. E em vários outros lugares. Sigamos.

Um grande momento
A briga no campo de futebol. 

[46º Festival Sesc Melhores Filmes]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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