- Gênero: Policial
- Direção: George Gallo
- Roteiro: Joe Lemmon, Francesco Cinquemani, Giorgia Iannone, Bob Bowersox, Jennifer Lemmon, Luca Giliberto, Ferdinando Dell’Omo
- Elenco: Morgan Freeman, Cole Hauser, Vernon Davis, Talia Asseraf, Murielle Hilaire, Brian Kurlander
- Duração: 90 minutos
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Após a sessão de Muti – Crime e Poder, entrei no imdb para conferir a filmografia de George Gallo. Vigaristas em Hollywood. A Rosa Venenosa. Columbus Circle. Mais do que Você Imagina. É… o que eu esperava encontrar? Talvez se tivesse visto isso antes, teria me preparado melhor para a empreitada. Mas talvez mesmo sabendo de sua vida pregressa, a ideia de preparação aqui era quase impossível, porque a escavação de Gallo o levou longe demais. Talvez seja mesmo sua intenção se tornar uma espécie de Ed Wood do nosso tempo, ou talvez ele nem tenha noção de quem seja o mítico diretor. Ou ninguém o contou de como o sr. Wood recheava seus filmes de uma cara de pau tão charmosa, e uma despretensão tão genuína, que era impossível compará-lo a um simples diretor ruim. A verdade é que limites foram ultrapassados aqui, e definitivamente após conferir seu mais novo produto, não há como ‘desver’.
Independente do que veio e principalmente do que virá depois (e no mesmo imdb, constam sete filmes a serem dirigidos por ele em pré-produção), Muti – Crime e Poder, se fizéssemos uma analogia, poderia se dizer que é a letra de uma criança que precisa de caderno de caligrafia, com urgência. Em linhas gerais, podemos dizer que o trabalho de Gallo mais se assemelha a um rascunho do que ao resultado final, como se nenhum tratamento posterior tivesse sido realizado, a começar pelo roteiro, mas principalmente passando por fotografia e montagem, estamos diante de um primeiro corte. E uma onde pouca coisa conseguirá ser salva, porque há a certeza de que estamos diante de um produto que precisaria ser refeito, inteiro.
A começar pelo fato de que Muti – Crime e Poder é profundamente desrespeitoso com a cultura africana, e suas crenças que resistem a tantas gerações. Graças a Gallo, toda essa ancestralidade deveria ser considerada perigosa, porque os personagens que vieram do continente são pintados como fanáticos religiosos e assassinos. Obviamente que isso também é um sintoma verdadeiro do racismo explícito da produção, que chega a incomodar pela insistência. Que os atores, brancos ou pretos, tenham lido o roteiro de (vamos lá pra multidão!) Joe Lemmon, Francesco Cinquemani, Giorgia Iannone, Bob Bowersox, Jennifer Lemmon, Luca Giliberto e – ufa! – Ferdinando Dell’Omo, e considerado que estava tudo na mais perfeita ordem, é o estranhamento. Até porque a falta de absoluta qualidade do roteiro não é apenas pelo preconceito que apresenta, mas por tudo que se constitui uma narrativa, falha miseravelmente, ou nem tenta.
De alguma maneira, passa pela nossa cabeça algo outrora impensável: será que o mundo não seria melhor se, de tempos em tempos, fosse acionado uma espécie de controle de qualidade cinematográfico para impedir que certos acontecimentos fossem impedidos de nos alcançar? Sei que assistimos uma saraivada de títulos indigestos ao longo de uma temporada, mas Muti: Crime e Poder vai além do que vimos em títulos como Amor(es) Verdadeiro(s) ou O Nascimento do Mal, porque todas as suas inserções parecem apenas amadoras demais para que possamos compreender. O foco das lentes não é acertado muitas vezes, a decupagem inexistente que enquadra errado as cenas, a absoluta falta de compreensão do tempo e do espaço geográfico que transforma Glória Perez e suas digressões entre o Brasil e qualquer parte do mundo em uma viagem de uber, é literalmente impossível encontrar algo que seja digno de nota aqui.
E não, não estou falando de algo medíocre e esquecível, com o qual não nos importaremos em um par de dias, mas de algo perturbador tecnicamente e muito repreensível no que consiste sua construção de atmosfera e roteiro. São ideias não concatenadas entre si, que apenas provocam um mal estar para tentar localizar o motivo pelo qual tudo está disposto daquela maneira desastrosa. E também não é certo dizer que Muti – Crime e Poder é um daqueles projetos que “dão a volta”, ou seja, de tão erráticos acabaram se tornando bons, ou pelo menos engraçados. A verdade é que a sessão é muito aborrecida, o meio de campo ali da narrativa é todo cansativo e repleto de clichês na realização, e o que sobra é lamentar por quem tem menos culpa em cena. Dica: os menores culpados são os espectadores, que ainda precisa passar pela tortura que é acompanhar o que Tom Russbueldt achou gratuitamente na internet e assinou, chamando de trilha sonora os acordes mais batidos que se têm notícia.
No caso, é um apontamento direto para seus protagonistas, Morgan Freeman e Cole Hauser. O primeiro é um dos atores de maior prestígio de seu tempo, de ligação profunda com o público, dono de um Oscar e outras quatro indicações, e um carisma infinito; o segundo não teve qualquer coisa parecida com Freeman na vida, mas é um profissional do cinema B hollywoodiano hoje em dia que entende seu lugar. Entre os dois, há a certeza de estar diante de dois atores realizando seu ofício e tentando escapar das armadilhas que o roteiro joga para eles. Acima de tudo, são dois profissionais que sabem se portar na frente das câmeras, coisas que todo o restante do elenco de Muti – Crime e Poder não sabe do que se trata. É uma coleção de péssimos atores, mas além disso, pessoas que não entendem o corpo de um profissional, e estragam o que está na sua frente. A culpa é somente deles? Obviamente não, estamos falando de um fenômeno raro de acontecer – todos têm culpa, e todos merecem castigo por oferecer isso ao mundo.
Um grande momento
A alimentação do detetive Boyd