- Gênero: Ficção
- Direção: Meron Alon
- Roteiro: Meron Alon
- Elenco: Jean Smart, Lil Rel Howery
- Duração: 6 minutos
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A ideia de enfrentar um veredito divino parece dramática, mas em Too Good, de Meron Alon, vira sátira. Depois de morrer, um homem se apresenta aos portões do céu esperando julgamento. Em vez disso, encontra uma deusa entediada e sarcástica, vivida por Jean Smart, que o interroga sobre pequenas gentilezas esquecidas e preguiças cotidianas, como pegar o gelo do chão ou apertar o botão de fechar no elevador. O grande questionamento não é sobre salvação, mas sobre se já fomos realmente bons o bastante.
A graça do filme não está na piada, mas no desconforto que ela provoca. O humor escorrega para a intuição moral, para aquela vergonha que não era só sua. Afinal de contas, ser bom o bastante não é algo que se mede pelos atos heróicos que praticamos, mas pelas pequenas ações que deixamos de fazer e pelos deslizes que fingimos esquecer.
Jean Smart está ótima como a entidade cansada, ríspida e ao mesmo tempo humana. Lil Rel Howery equilibra o quadro com seus tiques de culpa e insegurança. Juntos, os dois transformam o tribunal celestial em espelho crítico. E se fosse você no lugar dele? Aliás, já deve ter sido você em pelo menos um vez fazendo algo que ele fez antes de chegar ali naquela situação.
O visual é simples, com uma entrada para o céu burocrática e quase vazia, mas com uma freira para lá de expressiva na fila. Tudo para que o foco fique na comédia moral, pois, sem grandes cenários, o que se privilegia é a ironia. Não interessa tanto a passagem, mas essa despedida atravessada pela burocracia e pelo constrangimento. Isso basta para lembrar que somos todos imperfeitos.
Too Good termina com uma piscadela maliciosa. Como se dissesse que ninguém escapa e até os santos tropeçam no dia a dia. A graça está em perceber que a comédia não está só no julgamento, mas na constatação de que a vida inteira cabe em gestos mínimos. No tribunal divino de Meron Alon, a eternidade depende justamente dessas miudezas, e talvez a grande piada seja perceber que nunca vamos sair ilesos. Ser “bom demais”, às vezes, é só mais uma forma de condenação.
Um grande momento
Já apertou o botão do elevador


