O Alienista

Já quase como um disclaimer é esclarecido no início que alienista é aquele que se dedica ao estudo dos que na época eram chamados de alienados (quem sofre de mazela psíquica), para contextualizar quem de fato tem maior condição de entender e agir mais adequadamente diante dos eventos terríveis que se repetiam. O Alienista da Netflix é daquelas séries que ressignificam certezas e dramas, colocando uma pitada a mais de questionamento e empatia.

Após uma onda de crimes misteriosos na Nova Iorque de 1896, uma equipe peculiar é montada para estudar e investigar o caso, mas encontra bastante resistência de personagens importantes da justiça que estão fortemente comprometidos em preservar a elite, e sua reputação, que proteger os cidadãos pobres mais vulneráveis. A série se baseia nas obras de mesmo nome de Caleb Carr e mistura fatos reais e fictícios para contar a história de momentos importantes da ciência, da política e do contexto social que está inserida.

A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente

Uma das coisas que mais chama atenção na trama é que as vítimas dos crimes são invisíveis para a sociedade, por estarem na margem de qualquer cuidado ou relevância sócio-econômica eram presas fáceis e suas mortes, ou subtrações, tinham quase uma desculpa moral. E é aqui que parte dos conflitos ocorrem, chamando a atenção para uma série de injustiças que levam a outras injustiças que por berço ou bolso se mantém ou se livra do espiral aprisionante. 

A própria equipe investigativa já não era lá de boa reputação social: o alienista (médico que se dedicava a estudar a mente humana, que na época não era muito bem conceituado) Laszlo Kreizler (Daniel Brühl), a primeira mulher policial (primeira mulher policial…) Sara Howard (Dakota Fanning), o desenhista de jornal (pessoal da imprensa…) John Moore (Luke Evans) e os detetives irmãos judeus (judeus…) Marcus e Lucius (Douglas Smith e Matthew Shear).

Não se sabia já quem estava são, nem quem estava doido

Sombrio e cheio de mistérios, o roteiro prende e surpreende. A cada episódio não apenas a curiosidade aumenta, mas também o drama psicológico diante das injustiças sociais e de julgamentos morais que nada tem a ver com as reais ações, e sim com a origem. É uma condução pela estruturação da mente pelo meio tóxico e desigual que guarda vários segredos e perversidades. 

Para maratonar e torcer por justiça real, para entender quem é realmente alienado, para se assustar, se emocionar e querer mudar: The Alienist (o artigo the, sem gênero cabe até melhor depois da segunda temporada) é mais que uma série sobre a busca de serial killers ou sobre a mente humana, é uma obra sobre o caráter social.

O céu ou a inteligência? Pelo visto vou pro inferno…

Citações do conto “O Alienista“, do Machado de Assis, leitura recomendada para complementar a experiência.

O Melhor Episódio
T01E09 – Réquiem

Ver “O Alienista” na Netflix

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