Terror
Direção: Guto Parente
Elenco: Tavinho Teixeira, Ana Luiza Rios, Pedro Domingues, Zé Maria, Rodrigo Capistrano, Alcântra Costa, Lc Galetto, Fátima Muniz, Galba Nogueira, Bruno Prata, Ana Cristina Viana
Roteiro: Guto Parente
Duração: 81 min.
Nota: 6
Desde os primeiros minutos de O Clube dos Canibais, é muito fácil identificar a mensagem que o longa-metragem que passar. A cena inicial se desenvolve naquele que se tornou um símbolo imagético da divisão de classes: a piscina. Nela, Gilda olha com desejo para o seu empregado. A estetização da cena direciona ao caráter social da mensagem, que é confirmado com os eventos que se seguem.
Entre o grafismo da violência, muito explícito no vermelho sangue, e do sexo, Guto Parente atinge o pano de fundo de seu longa-metragem, aquele que não só dá nome ao filme como também justifica toda a trama. As refeições inusitadas remetem a Raphael Montes. Mesmo que motivações e desenvolvimento apareçam aqui de forma mais madura, há muitas cenas que lembram os banquetes com carne de gaivota de “Jantar Secreto”.
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Voltando à estética de O Clube de Canibais, a fotografia de Lucas Barbi e a direção de arte de Lia Damasceno destacam os contrastes. Os personagens também são desenvolvidos para estimular a empatia – ou antipatia – dos que veem o filme. Seja na postura corporal ou nos diálogos, os protagonistas vão se distanciando e adquirindo contornos preconceituosos, que vão do machismo à exclusão, e que contrariam qualquer possibilidade de aproximação.
No gore, Parente estabelece a sua metáfora sobre o elitismo e a insignificância da vida humana para aqueles que não estão nos mesmos círculos, ou seja, representa a sociedade brasileira de hoje e a de 600 anos atrás. O terreno por onde anda é fértil e o contexto, urgente.
Porém, há uma desconexão com o gênero. Quando se escolhe o horror, metáforas não precisam e nem podem ficar sendo explicitadas a todo momento no texto do filme. O alcançar do tema, vem de outra forma, mais intuitiva e ligada aos instintos primitivos que determinam o andamento da trama.
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A superexposição faz com que outras quebras se sobressaiam, a tensão deixa de existir e sua ausência evidencia a irregularidade nas atuações que está por todo o filme, com exceção de Tavinho Teixeira e Zé Maria sempre muito seguros. Cenas como a da apresentação da propaganda ou os rapapés com o deputado não acrescentam e sacam o espectador do filme.
Ainda assim, O Clube dos Canibais é um filme que consegue sobreviver aos deslizes, se recuperando dos afastamentos que provoca e da literalidade excessiva. Encontra interesses em questões diversas e no próprio reconhecimento da sociedade, mas é mesmo no ápice da ação, com os ótimos efeitos especiais de Rodrigo Aragão, que se fortalece. Os momentos finais são tensos na medida e seguem os passos de uma boa construção de suspense.
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Sequências como aquela por dentro da casa, pelas passagens secretas, fazem um bom uso da repetição. Embora nem sempre sejam precisos, artifícios como trilha sonora, música grave e ausência de luz também são bem aproveitados. O Clube dos Canibais consegue se reinventar e se estabelecer como um bom filme splatter.
Pena que além do terror gráfico, não é tão sutil quanto o seu desfecho, quando volta ao início de tudo, na mesma piscina, mas apresenta a inversão de posições e papéis que interessa desde o primeiro momento.
Um Grande Momento:
Na passagem secreta.
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