Crítica | Festival

O Novelo

A linha das vidas

(O Novelo, BRA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Cláudia Pinheiro
  • Roteiro: Nanna de Castro
  • Elenco: Nando Cunha, Rocco Pitanga, Sérgio Menezes, Rogério Brito, Sydney Santiago Kuanza, Nando Cunha, Fernando Lufer, Rocco Pitanga, Michel Gomes, Sérgio Menezes, Victor Alves de Sillos, Rogério Brito, Caio Oliveira, Pedro Guilherme, Isabél Zuaa, Andre Ramiro
  • Duração: 95 minutos

Um novelo é um objeto curioso, um amontoado de fios ou, por vezes, um comprido mesmo fio com objetivos diversos. União em forma de emaranhado, ou matéria-prima para outro objetivo e para criação de caminhos e redes, é versátil em sua simplicidade. Aqui, O Novelo fala sobre cinco vidas que se desenrolam de uma mesma origem. As linhas, literalmente, estão no tricô que a mãe, vivida por Isabel Zuáa, está sempre fazendo; e na pipa que o pai, André Ramiro, deixa pronta antes de desaparecer. Metaforicamente, é aquela que une os cinco meninos: Mauro, Cicinho, João, Zeca e Cacau até que se tornem homens.

Baseado na peça homônima de Nanna De Castro, que foi a responsável pela adaptação para o cinema, e dirigido por Cláudia Pinheiro, o longa faz um movimento diferente no cinema pela direção contrária que toma. Depois de anos e mais anos com homens imaginando, estabelecendo e determinando como são ou devem ser as mulheres no cinema, o filme é um desenho do universo masculino, com todos os seus estereótipos, pré-concepções, interpretações e determinações. Porém, é interessante ver como a abordagem consegue, na maioria das vezes, ser mais profunda.

Assim como a peça tinha traços cinematográficos — desde o começo, o projeto tinha a intenção de estar nos dois lugares –, o longa traz um pouco dos palcos às cenas. Muitos dos quadros são compostos frontalmente e a produção é algo que chama atenção pela qualidade técnica. Embora haja um desequilíbrio na qualidade das atuações, Cláudia Pinheiro é uma boa diretora de elenco e mostra para muita gente do novo cinema brasileiro que a emoção pode estar em pequenos gestos e que o naturalismo é atingido por caminhos menos escalafobéticos do que o que se incensa por aí.

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Ao roteiro e aos atores cabe entender e estabelecer a diferença entre cada um dos irmãos. Com suas personalidades distintas, o espírito de proteção constante e muita química quando estão juntos. Disso vêm o passeio pelas memórias, que surgem no filme pela narrativa não-linear que volta ao passado para explicar ligações e a influência de Dona Alzira e a força de uma ausência em cada uma dessas personalidades.

O Novelo segue bem o seu traçado, envolvendo o espectador até quando não está em seu espaço de maior confronto, na sala de espera do hospital, e dá mais espaço para que Nando Cunha/Fernando Lufer, Rocco Pitanga/Michel Gomes, Sérgio Menezes/Victor Alves de Sillos, Rogério Brito/Caio Oliveira, Sydney Santiago/Pedro Guilherme, tenham liberdade para criar. Há alguns diálogos que caem demais justamente pela percepção de um masculino que cai no estereótipo, assim como tanto tempo fizeram com a figura feminina. São várias conversas que deixam isso evidente, mas uma, em especial, chega a irritar, justamente por envolver o outro gênero e tentar arrumar uma desculpa para isso.

É um deslize sério, grave, uma visão que se quer colocar na conta dos homens e que ultrapassa a intenção, mas que não invalida tudo o que o filme tenta fazer e consegue. Ao desenrolar seu novelo e aproveitar sua linha, Pinheiro tece uma malha interessante, dessas que dá gosto de ver.

Um grande momento
Maquiagem

[49º Festival de Cinema de Gramado]

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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