Crítica | Outras metragens

O Que os Machos Querem

Invertendo papéis

(O Que os Machos Querem, BRA, 2021)
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Ana Diniz
  • Roteiro: Ana Diniz
  • Elenco: Ana Marinho
  • Duração: 9 minutos

Como toda arte, no cinema, os filmes que trabalham com os símbolos conseguem se diferenciar, provocando sensações mais profundas e atingindo lugares de identificação, curiosidade e contextualização. Há filmes que não ligam para isso e duram o tempo de sua projeção, tão logo terminam são esquecidos; e há aqueles que já chegam criando vínculos para além do que se vê na superfície e ficam por muito tempo com aqueles que o assistem. Assim é Aquilo Que os Machos Querem, curta-metragem de Ana Diniz vencedor do 16º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro.

O filme mergulha no conto homônimo de Ruth Ducaso e dá vida à transfiguração de uma realidade que oprime, violenta e mata cotidianamente. No Brasil, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, durante o isolamento social imposto pela Covid-19, em 2020, foram registrados 1.350 casos de feminicídio, o número de chamadas por violência doméstica aumentou 16,3% e mais de 294 mil medidas protetivas de urgência foram concedidas pela Justiça. Isso sem falar em toda a relativização dos crimes e na cultura de culpabilização da vítima. É nesse país, onde não faltam elementos a serem utilizados em reconfigurações, que o texto e sua releitura audiovisual, encontram espaço.

A verdade em seu polo invertido chega pela ruptura e quem traz essa transformação é a protagonista, vivida competentemente pela atriz Ana Marinho. Sozinha em cena, conduz o espectador pela libertação que vem em forma de vingança poética, iluminando o ambiente escuro, revirando as tripas, retalhando o fígado. Há bílis, óbvio, e a literalidade poderia ser um problema se não trouxesse tantas possibilidades. Por trás de tudo, trilhando outro caminho, mas ainda no mesmo contexto, a palavra dita em off, num jogo que traz ainda mais interesse a O Que os Machos Querem.

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E o curta também faz sua reconstituição, optando por outras formas de representação, o teatro de sombras. Como esta, cada escolha, cor, pausa e silêncio tem o seu motivo, tudo pensado e com o seu significado, por vezes deixando esse cálculo evidente demais. Essa percepção pode causar um senso de distensão temporal, mas algo que faz sentido tendo em vista a mensagem. Em sua inversão e afrontamento, fato é que O Que os Machos Querem chega com força em todo o seu vermelho, a mensagem impactante de Ducaso e com as expressões marcantes de Marinho.

Um grande momento
“Aos bois mansos não sirvo tigela de flor, não monto alçapão.”

[16º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro]

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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