- Gênero: Drama
- Direção: Aaron Sorkin
- Roteiro: Aaron Sorkin
- Elenco: Eddie Redmayne, Alex Sharp, Sacha Baron Cohen, Jeremy Strong, John Carroll Lynch, Yahya Abdul-Mateen II, Mark Rylance, Joseph Gordon-Levitt, Ben Shenkman, J.C. MacKenzie, Frank Langella
- Duração: 129 minutos
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Pra imensa maioria das pessoas, Questão de Honra hoje deve ser um título injustamente esquecido. Indicado a 4 Oscars em 1992, incluindo melhor filme, e com uma interpretação inesquecível de Jack Nicholson, o longa de Rob Reiner foi meu primeiro contato com o texto de Aaron Sorkin, roteirista e diretor de Os 7 de Chicago, longa que a Netflix comprou da Paramount por conta das dificuldades causadas pela COVID-19 e que estreia hoje, remetendo imediatamente a esse longa de quase 30 anos atrás para fazer jus de que se trata do mesmo responsável pelas linhas de ambos.
Projeto herdado de Steven Spielberg, Os 7 de Chicago versa sobre um processo que foi de 1968 até 1970, envolvendo a prisão de sete homens que não se conheciam acusados de liderar uma organização que incitou a população contra a polícia durante as convenções do Partido Democrata , acarretando em uma espiral de violência que renderam quase 500 feridos. Com uma estrutura do cinema clássico-narrativo que nos faz afundar em uma atmosfera que não é mais produzida com frequência no cinema americano, o filme é um senhor descendente do que um dia foi chamado de Era de Ouro hollywoodiana, um material que o próprio Spielberg costuma executar à perfeição (Ponte de Espiões, The Post, só pra citar os mais próximos) .
Como Sorkin ainda está engatinhando na direção de cinema (seu primeiro longa como maestro é o anterior a esse, A Grande Jogada), percebe-se ainda alguma falta de brilho mais evidente na construção de planos, um esmero plus que Os 7 de Chicago não se esforça em alcançar. Homem da palavra, o diretor continua centrando seu fogo na escrita, e entrega mais um roteiro digno de nota, no qual tanta informação é dada por minuto que corre o risco do espectador ficar zonzo ou perder alguma deixa, construindo personalidades tão bem delineadas para atores tão vastos em suas capacidades, e o filme segue um processo onde a experiência parece ter impedido voos maiores.
Ainda bem que Os 7 de Chicago não exige da sua construção imagética mesmo, tendo consciência de que o trabalho de montagem de Alan Baumgarten é tão milimétrico e que a trilha sonora de Daniel Pemberton (de Brooklyn Sem Pai Nem Mãe, outro exemplo de filme recente que faria orgulho à Era de Ouro) é tão sutil, que não impõe sua presença ao longa, apenas emoldurando as cenas quase ao longe. Mostrando um senso de ritmo invejável ao encadear inúmeras passagens sem atrapalhar a fruição da história e imprimindo um ritmo ágil ao projeto, o filme também impressiona pela capacidade de vender entretenimento de qualidade sem precisar fazer concessões ao popularesco.
Para um filme assinado por Sorkin, a palavra ser tão em voga do início ao fim acaba gerando a necessidade de um elenco à altura, e Os 7 de Chicago conseguiu um gigantesco elenco de feras, onde um quarteto em particular faz toda a diferença: Mark Rylance (Oscar por Ponte…), Frank Langella (indicado por Frost/Nixon), Eddie Redmayne (Oscar por A Teoria de Tudo) e Sacha Baron Cohen (de Borat, cujo novo capítulo estreia semana que vem). A subjetividade definiria a ordem entre eles, mas se todo o elenco tem momentos de destaque, esses quatro aproveitam cada nuance que o filme apresenta sobre cada um deles, e como suas vidas pregressas não é muito explorado, cabe aos atores desenvolver suas camadas a partir do episódio, exclusivamente
O “filme de tribunal” é, por si só, um formato cuja celebração já teve seu espaço, e hoje este é quase completamente ocupado pela TV americana. Sorkin volta a utilizar as chaves certas desse subgênero para fazer refletir sobre política, racismo (em cena apavorante), guerra, negacionismo, e tantos assuntos tão atuais, que fica impossível não achar que Os 7 de Chicago está se comunicando com as condenações dos tribunais das redes sociais e das fake news, de alguma forma, sem jamais panfletar.
Um grande momento
Juiz Julius Hoffman x William Kunstler