- Gênero: Documentário
- Direção: Otávio Almeida
- Roteiro: Otávio Almeida
- Duração: 17 minutos
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“Dois meninos moram com um homem mais velho em condições precárias, porém fazem das dificuldades uma ponte para a imaginação”. Bom, essa poderia ser uma versão Rede Globo da sinopse de Os Meninos Lobo, curta-metragem em cartaz no 9º Olhar de Cinema e que pode ser, fácil, uma reflexão sobre o poder da imaginação diante da adversidade, e no que essa mesma adversidade transforma a imaginação. Embrenhado entre esses dois códigos específicos, o filme trava uma batalha da vontade de realizar versus as possibilidades para tal, e em que condições as mesmas podem ser potencializadoras, uma da outra.
Otávio Almeida é um cineasta brasleiro que estudou e se formou em Cinema na Escola de Cuba, e foi lá que realizou essa produção quase transcendental sobre a infância de caráter observacional. Como uma testemunha, ora ocular e ora distanciada dos eventos mostrados, Almeida aproxima suas lentes de um microcosmos que vive o delírio em meio ao caos, que se apropria desse mesmo jogo infantil de proposições e invenções pra conversar sobre a política do medo entranhada na sociedade mundial através dos vislumbres de uma guerra que só parece longínqua, que absorve gradualmente todos nós para seu olho do furacão.
![Os Meninos Lobo](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2020/10/Os-meninos-lobo_interno2.jpg)
Divididos entre serem crianças e tomar conta de um adulto alheio à vida, os pequenos recheiam seu dia a dia com um campo amplo de elementos que nunca se dissociam. Eles correm pela floresta, eles margeiam as estradas na madrugada, eles fazem vigiam o parente mais velho que também ele é um sobrevivente de outrora, e tudo se encaixa nessa caldeirão de elementos que nos remete às zonas de guerrilha e dos sacrifícios cubanos em prol de uma liberdade que promoveu quadros como o do filme, que somente com o poder do onírico poderá ser salvo, ou ao menos suavizado.
Lentamente essa narrativa realista que se permite fantasmagórica começa a colocar em cheque esses jovens homens, todos inseridos em contexto onde a masculinidade não os deixará ilesos. Os assombros de guerras passadas os arremessam a guerras futuras onde a carga de ser Homem, de ter Honra, representa uma maldição a mais naquele ambiente; é por serem demasiadamente Homens que tantas vidas foram perdidas, literal ou metaforicamente, e a perda da razão também vasculha tantos sobreviventes. Onde irão parar os herdeiros das guerras, senhora de todas as tragédias?
![Os Meninos Lobo](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2020/10/Os-meninos-lobo_interno1.jpg)
Dinamizando planos de confrontação direta com o espectador, o material filmado agoniza em suas utopias infantis, em seu desejo incontrolável por poder já tão cedo, em definir os rumos da vida e da morte onde não há uma terceira alternativa, como relegada ao moribundo que os circunda. Haverá o sangue lavado dos inimigos, mesmo que sejam nossos irmãos em armas, nossos irmãos nas veias. O que importa na narrativa excruciante de Os Meninos Lobo não é a sobrevivência mas o que permanece após ela. Homens. Honra. Sangue. Poder. A combinação dessas palavras nunca gerou bons resultados, nem entre brincadeiras juvenis. Estaremos todos mortos, e essa escolha nem será nossa, mas do Homem mais próximo a nós.
Um grande momento
O clímax