- Gênero: Ficção
- Direção: Henrique Arruda
- Roteiro: Henrique Arruda
- Elenco: Carlos Eduardo Ferraz, Mateus Maia, Gilberto Brito, Sóstenes Fonseca, Sharlene Esse, Raquel Simpson
- Duração: 22 minutos
-
Veja online:
São tantas as referências utilizadas por Henrique Arruda em Os Últimos Românticos do Mundo que periga o espectador se deixar levar pelo canto de uma sereia muito sedutora e perder o fio da meada narrativo. Há muita coisa para ver, para absorver, um caldeirão cultural imenso e transbordante que conversa com diversos grupos etários diferentes, com muitas orientações sexuais (ainda que a tribo LGBTQI+ seja o foco principal), com carinho infinito por cada uma dessas vertentes abordadas nessa espécie de fábula campy distópica, veículo não apenas para desfilar a memória de seu autor, mas principalmente seu coração, e com isso afetar tantos outros.
Como tantos produtos recentes, que vão de Stranger Things a Os Jovens Baumann, passando pelos inúmeros documentários que investigam imagens pré-concebidas à realização para fomentar laços afetivos na maior parte das vezes oriundos de núcleos familiares, o filme aborda uma estética oitentista/noventista para criar material imagético de qualidade inquestionável, que vão desde as legendas de apresentação dos filmes marca registrada da Globo (com sua separação por ‘partes’) até a qualidade específica das imagens, retiradas de clássicas fitas de VHS que todos nós gravamos, até chegar no trabalho sonoro, igualmente impressionante (“versão brasileira, Herbert Richers”).
Na tela, misturado a toda essa informação icônica cujos signos são de clara apreensão pra quem viveu no período, a atmosfera queer é reproduzida em todo seu majestoso orgulho em todas as vertentes possíveis. Isso é talvez o grande dado a ser guardado a respeito do filme de Arruda, há muita paixão, muita verdade, há um imenso prazer em estar contando aquela história, cujo material empático acontece quase que imediatamente ao público-alvo, mas que não demora em fazer efeito a qualquer cinéfilo. Não satisfeito das qualidades da encenação, o filme ainda abarca um plot twist inesperado e emocionante, que eleva o material como um todo.
Mas é preciso deixar claro que Os Últimos Românticos do Mundo é desenvolvido sob a chave da farsa, do experimentalismo e da artificialidade, mesmo esses códigos típicos dos anos 1980 são um prenúncio de que seu material tem tanta potência narrativa quanto imaginativa, incluindo uma setorização futurista do tempo presente da produção – sim, o filme pode ser encarado na alcunha da ficção científica, também angariando signos do gênero, que cobra pra si algumas das ideias apresentadas, como a da fumaça cor de rosa misteriosa, que ameaça e encanta a seus personagens.
Sem medo do exagero, Arruda parece interessado em solidificar sua narrativa com excessos, e ao contrário do que poderíamos imaginar, sua força cênica é aflorada por essas inúmeras referências que acabam por incluir até musicais, seja ao vivo, seja na homenagem à uma MTV longínqua, lá do início, e elevando Bonnie Tyler mais uma vez à musa de (mais) uma geração. A música também desempenha uma função de amalgamar sentidos e aprofundar emoções entre não apenas os personagens, como também aos espectadores, que saem do filme implacavelmente nocauteados pela seleção de gatilhos de outras épocas e outro amores.
Se Mateus Maia e Carlos Eduardo Ferraz vendem química em cena e são responsáveis pela catarse emocional que o filme apresenta, é nas capacidades de regente de Henrique Arruda que tudo se arregimenta. Tecnicamente embasbacante, Os Último Românticos do Mundo é uma fábula que talvez faltasse ao universo LGBTQI+ (GLS, nos 80?) e que Arruda descortina para nos fazer mergulhar junto com ele no seu manancial de memórias de um tempo passado para se comunicar com um tempo futuro, e sacudir o tempo hoje. São os clichês do amor românticos sendo devassados e redefinidos de ponta a ponta, pra mostrar o que talvez falte na sociedade atual: AMEM-SE!
Um grande momento
Daqueles casos onde a resposta poderia ser “o filme inteiro”, mas… Magexy.