- Gênero: Drama
- Direção: Rodrigo García
- Roteiro: Rodrigo García
- Elenco: Ethan Hawke, Ewan McGregor, Maribel Verdú, Sophie Okonedo, Vondie Curtis-Hall, Todd Louiso, Oscar Nuñez, Maxim Swinton, Tom Bower
- Duração: 100 minutos
-
Veja online:
Rodrigo García, quando apareceu, foi considerado uma revelação. Filho “apenas” de Gabriel García Márquez, o cineasta chegou ganhando a Un Certain Regard, segunda mais importante competição do Festival de Cannes, com sua estreia, Coisas que Você Pode Dizer Só de Olhar para Ela. De lá pra cá, a amizade fidagal com Glenn Close e uma decadência que não parece ter fim, foi só o que lhe restou; o talento, já vai muito longe. Mas a verdade é que ele já fez coisas bem piores que esse Raymond & Ray, que estreou faz pouco tempo na Apple+. Na verdade, esse é um filme que já vimos antes, sobre acerto de contas mediante falecimento, geralmente com desenvolvimento mais aprimorado e melhor apresentado.
A história encontra os dois meio-irmãos do títulos sendo pegos de surpresa pela morte repentina do pai em comum, precisando viajar para a cerimônia do adeus juntos, sem muitos motivos para fazer tal viagem (que nem é tão longa) por odiar esse homem que acabou de partir. Em cena, Ethan Hawke e Ewan McGregor tentam dar o seu melhor, e ambos têm talento de sobra para dar conta de situações tão prosaicas quanto rasas. Poderia dizer que o filme vale por eles, mas a verdade é que nem eles estão dispostos a ajudar muito, mesmo porque não há material o suficiente para que eles doem algo de seu repertório que seja minimamente satisfatório. Chegamos ao cúmulo de uma mesma cena ser repetida, com os mesmos diálogos e a mesma reação.
![Vondie Curtis-Hall e Ethan Hawke em cena do filme Raymond & Ray](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2022/11/raymond-ray_interno2-1024x512.jpg)
García nunca foi um esteta. Suas produções avançaram através de um campo naturalista que fazia de seu cinema especial quando seu roteiro permitiu uma discussão mais elaborada do que necessariamente a direção. Foram filmes em sua maioria femininos, e dessa vez ao adentrar o universo masculino como poucas vezes o fez, o cineasta não parece ter muito controle sobre a situação. Ainda que seu filme anterior também não seja bom (Quatro Dias com Ela), ele dá material de sobra para Glenn Close e Mila Kunis brilhar, seja na observação do feminino em si ou no campo dos diálogos, cada vez mais antenado com uma compreensão muito grande do outro. Ao adentrar o mundo dos homens, até isso parece ter se perdido.
Não há muito o que ser investigado por trás da narrativa apresentada. Quando os filhos chegam, descobrem que suas terríveis experiências com o pai não refletem o homem que ultimamente ficou conhecido entre os que se relacionavam com ele. Considerado querido, uma pessoa especial, cheio de vida e com uma alegria desconcertante, Raymond e Ray não conheceram esse homem, e são apresentados a esse cara surpreendente. Só que isso não tem nada de novo, e as revelações também são antiquadas, nada representa uma narrativa minimamente interessada no que se conta. Desse jeito, Raymond & Ray escala uma parede de mesmices para justificar sua feitura, e acaba funcionando apenas com o espectador pouco, eu diria pouquíssimo até, exigente.
![Maribel Verdú e Sophie Okonedo em cena do filme Raymond & Ray](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2022/11/raymond-ray_interno1-1024x512.jpg)
Com alguns erros de continuidade e um roteiro desinteressante, Raymond & Ray tenta criar alguma bossa, como quando acontecem números circenses em meio ao sepultamento, mas mesmo a nova paixão de Raymond é algo protocolar e esperado. A forma como esses dois filhos se relacionam com a memória do pai não suscita nenhuma camada de verdade, parece tudo preguiçoso e pouco inspirado. Um imenso jogo onde contamos o que de verdade nunca foi visto antes; o resultado é quase ínfimo. As participações de Maribel Verdú e Sophie Okonedo não dizem a que veio, e só Vondie Curtis-Hall empresta vigor ao projeto, que amarga um comodismo em todos os lugares para onde olhamos.
Um grande momento
Ray diante do caixão, no velório