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Trocados

Só destroquem!

(Family Switch, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: McG
  • Roteiro: Victoria Strouse, Adam Sztykiel
  • Elenco: Jennifer Garner, Ed Helms, Emma Myers, Brady Noon, Rita Moreno, Mathias Schweighöffer, Vanessa Carrasco, Cyrus Arnold, Lincoln e Theodore Sykes
  • Duração: 95 minutos

Por mais que a carreira de McG nunca tenha sido pautada pela seriedade, e o seu compromisso com a galhofa seja uma marca registrada tão absorvida em si, que ela em si se configure como sinal de autoralidade, não estávamos preparados para Trocados. Eu poderia trocar em miúdos e dizer que não passa de uma bobagem repetida pela centésima vez, mas seria injusto com o desprendimento de vocês em chegar até esse texto, e principalmente comigo ao sentar para escrevê-lo. Mas se caso eu resolvesse ser apenas taxativo nesse grau, eu estaria longe do erro; estreia de sucesso da Netflix, o filme estrelado por Jennifer Garner e Ed Helms é o que é – sua sinopse conta tudo (e esse tudo é muito pouco), e dali não se extrai nada além. 

O acerto entre a Netflix e McG rendeu um duo de filmes bem legais que fizeram sucesso, os dois A Babá, produções indecisas entre o humor e o horror que engatinhavam nos dois lugares. Esses títulos demonstram como o diretor não tinha pretensões artísticas na faixa de um Martin Scorsese, mas o que provém de seu cinema não é desprovido de propósito, além de não faltar entretenimento. Ou melhor, isso tudo poderia ser afirmado até Trocados, porque daqui pra frente vá saber o que acontecerá com essa carreira. Não estou jogando pá de cal na filmografia de ninguém, mas quando a pessoa se propõe ao entretenimento como bandeira e ainda assim chega a um ponto inexplicável dentro do próprio campo, é difícil de imaginar o passo a seguir. 

A trama ultrapassa os limites do básico: uma família (pai, mãe, filha, filho, bebê e cachorro) onde ninguém está se dando bem com ninguém na atualidade, fala literalmente aquele “se eu fosse você” que marcou Tony Ramos e Glória Pires e todos trocam de corpo. Sim, inclusive o bebê e o cachorro um com o outro. Aliás, essa micro anarquia é o ponto fora da curva do filme, que ganha muitos pontos a cada uma das vezes onde sua trama é deslocada para a casa do vizinho que cuida deles sem saber, e a câmera trapaceia o personagem para nos mostrar o caos. Tirando essa sacada repetida que rende resultados inusitados em dois personagens não-falantes, todo o resto é puro suco da repetição e da burocracia. 

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Mesmo em títulos como Sexta-Feira muito Louca nos é apontado como os personagens querem se vestir fora do padrão de sua idade específica e isso se torna, digamos, exótico. Pois até essa colocação besta é revalidada por Trocados, um filme que não tem vergonha e nem se sente culpado por ser ‘mais um título na caixa de streaming’. Não que a Netflix e todas as outras não estejam nos entupindo dessa dieta semanalmente, mas quando um diretor minimamente interessado cede à pressão do conforto desconfortável, é sinal de que deveríamos respeitar menos esse produto que o similar da semana que vem. Porque McG já teve o que dizer inclusive dentro de As Panteras, porque retroceder tão ferozmente? 

O quarteto de protagonistas é talentoso, mas Garner e Helms nem parecem tentar algo com substância. Os adolescentes Emma Myers (de Wandinha) e Brady Noon (de Bons Meninos) se saem bem melhor, mesmo tendo nada a perder. Parecem motivados a mostrar algo na experiência que for onde forem convidados a tal, enquanto os veteranos estão cumprindo um contrato. Esse também parece a motivação de McG, pagar umas contas e não se preocupar com o que mancha ou não um currículo; o filme novo de hoje é o velho de amanhã, e vamos em frente. Em qualquer sentido para onde se olhe, Trocados fede a naftalina e seu prazo de validade esgotou antes mesmo da fabricação. Façam o seguinte: fiquem com o bebê-cachorro e cachorro-bebê, os momentos onde o filme tenta alçar voo, e com o rosto dos jovens atores, porque eles são uma promessa. Algo mais? Hummmm, acho que não. 

Um grande momento

O ‘novo Miles’ dispara

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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