Crítica | Streaming e VoD

Seja Você Mesma

Delícia requentada e modesta

(Merve Kült, TUR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Cemal Alpan
  • Roteiro: Ceylan Naz Baycan
  • Elenco: Ahsen Eroglu, Ozan Dolunay, Zuhal Olcay, Burcu Türünz, Zehra Yildrim, Levent Mese, Ege Aydan, Mine Tugay
  • Duração: 96 minutos

Mais uma produção turca a aportar na Netflix, esse Seja Você Mesma é uma ‘sessão da tarde’ típica, dessas que já acompanhamos muitas vezes, e que não irá mudar a vida de ninguém, ao menos não os cinéfilos já doutorandos nessa narrativa. Provável sucesso do streaming justamente entre quem não está tão submerso nesse tipo de título, não é nenhum sacrifício acompanhar até o fim essa saga que se vende até com algum tipo de mistério inicial, desnecessariamente. Aos poucos, vamos compreendendo os detalhes da história de Merve, sua mãe e seus vizinhos, prestes a serem despejados do prédio onde vivem. O roteiro corre atrás de tentar revelar seus segredos criando novos, e enrolando uma história simples de maneira descabida. 

O teor de comédia romântica está em todo lugar, incluindo a adição de recursos mais modernos do gênero, como uma protagonista que fala para a câmera, expondo assim suas motivações. Além disso, Merve também é aspirante a estilista (hoje chamam de designer de roupas, né?) e igualmente aspirante a influencer, de apenas 24 anos, e um jeito natural de exercer sua espontaneidade. É a personagem ideal para uma produção como a de Seja Você Mesma, onde o espectador precisa comprar cada evento, cada tipo desenvolvido pelo roteiro. Apresentado o quadro de maneira tão eloquente, resta ao todo se comunicar direto com o espectador, que é facilmente cooptado pelo que está sendo vendido ali, enquanto produto de massa. 

Além disso, o casal vivido por Ahsen Eroglu e Ozan Dolunay é um poço de carisma e química, e pouca coisa é mais importante em uma comédia romântica quanto isso. Eles funcionam tanto juntos quanto separados, e o espectador muito facilmente torce para que seu romance dê certo. Assim como eles, o resto do elenco todo funciona muito bem, desde os que têm grande participação, como a mãe de Merve interpretada por Zuhal Olcay como o pai, que aparece bem pouco, nas mãos de Ege Aydan. Essa colocação inclusive é um dos problemas do roteiro, que apresenta personagens demais e nem sempre dá o espaço necessário para cada um deles. Cada núcleo parece ter muita vida e informação, mas ficam todos restritos a uma zona afastada de preocupação, o que faz a criação desses muitos coros algo excessivo. 

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Escrito pelo iniciante Ceylan Naz Baycan, o roteiro de Seja Você Mesma não move muita diferença ao que já vimos em tantos filmes do gênero, mas quando tenta, inadvertidamente se atrapalha junto com a direção de Cemal Alpan, em seu segundo filme. Cria-se um clima de suspense investigativo algumas vezes, com direito a mudança da trilha e da cor da fotografia, que às vezes se traduz de maneira sombria. A leveza do projeto não deveria pedir por algo do tipo, e um filme apresenta esses arranhões vez por outra. O drama da venda do prédio entende-se perfeitamente, o filme consegue dar conta dessa nuance que faz parte da base da história, mas quando tenta elevar o material criando uma cortina de fumaça imagética, o filme derrapa. 

Seja Você Mesma é mais um título da Netflix que entra hoje, faz sucesso esse mês, e em julho já terá sido superado pelas próprias pessoas que farão seu êxito. Mas são as diretrizes de um streaming, apostar em títulos de fácil leitura, para que o consumo seja rápido e o público já emende essa experiência com a próxima. Não é a experiência pretendida por um produtor assim como os responsáveis pela produção, mas entendemos que haja consciência do lugar onde cada experiência irá representar. Aqui, a ideia é entreter e passar adiante cada sensação provocada, sem muita tragédia ao perceber tal recepção. Ainda assim, é bom anotar que o filme termina de maneira muito pouco inspirada para o fã de comédia romântica; onde foi parar a coroação da narrativa? 

Um grande momento

O beijo na chuva

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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