Crítica | Outras metragens

Time de Dois

Afeto no campo dos sonhos

(Time de Dois, Brasil, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: André Santos
  • Roteiro: André Santos
  • Elenco: Firmino Brasil, Thásio Igor, Célia Melo, Leonardo Prata, Wallace Martin, Artur Sousa
  • Duração: 11 minutos

Normatizar as relações homoafetivas, retirar das imagens o ódio e a intolerância que a sociedade impõe diariamente, reorganizar o caminho dos afetos para dentro de quem vive a opressão e espelhar um mundo onde a realidade se permeia de outra forma. André Santos não reinventa a roda da condução cinematográfica ao trilhar um caminho de esperança em meio ao horror vigente, o que Time de Dois aponta é uma saída vertiginosa na direção da compreensão, tão ausente hoje. Não é um caminho do meio, é um lugar de busca pessoal por uma lógica que não está na pauta do dia das questões cinematográficas e precisa ser desenhada como uma saída para o desamor.

Ao acompanhar a relação entre dois adolescentes na tentativa de um lugar ao sol através do futebol, Santos também atenta para quais são os lugares disponíveis no universo emocional dispostos a abrir espaço para a delicadeza em meio a jovens negros e periféricos, dentro do que entendemos dessa matriz no que é filmado hoje. Sua intenção não é criar uma fábula para abrigar o amor entre iguais, mas imaginar um universo onde tais sentimentos não sejam considerados qualquer outra coisa que não apenas bonitos. Logo, não vemos o irreal em cena, mas um enxerto de interpretação dos corpos através de um bem querer natural.

Time de Dois
Divulgação

O que os protagonistas de Time de Dois têm é raro tanto na vida real quanto na ficção: o entendimento de um futuro juntos repleto de possibilidades, no campo profissional e no campo afetivo. O que encanta o espectador é a naturalização de seus caminhos não apenas para seu próprio olhar, mas principalmente no que concerne ao seu entorno. Há torcida verdadeira para que ambos sejam felizes e a cada novo passo, o roteiro parece avançar na direção de um lugar singelo de colocação de seus sonhos, sem parecer panfletário ou mesmo fixado no social, pois se pretende unificar os dois aspectos do fim da adolescência para determinar escolhas pessoais.

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Dentro da experimentação de possibilidades fora do campo narrativo, o filme peca por uma certa simplicidade exacerbada, que pode ser confundida claramente com falta de compromisso estético, que mantém o filme dentro de um circuito de planos onde técnicas televisivas se façam presente e deem o tom da produção como um todo. Passagens de plano constituídos por apresentação periférica do espaço urbano utilizado tem uma ideia estratégica ao compor a realidade dos protagonistas, mas também isso correlaciona com facilidade a teledramaturgia ao cinema, com resultados desequilibrados.

Time de Dois
Divulgação

Passeiam então, lado a lado, a repaginação do campo sentimental de uma fatia de cinema envolvido pela aceitação do amor entre iguais, e também sua falta de capricho na ideia que passem longe do emocional, acessando uma tecnicidade que o filme não consegue alcançar, o que fragiliza o projeto por igual. Independente de não abrir mão do carinho que explicitamente observa entre todos os seus personagens e não apenas entre seus protagonistas, Time de Dois não se livra de suas deficiências estéticas. O quadro geral é muito agradável ao coração, e o filme só deseja ser avaliado por esse prisma.

Um grande momento
Encontro na parede

O crítico viajou para o 15º For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura de Diversidade Sexual e de Gênero a convite do evento

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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