Crítica | Streaming e VoD

Tudo Bem no Natal Que Vem

De novo outra vez

(Tudo Bem no Natal Que Vem, BRA, 2020)

  • Gênero: Comédia
  • Direção: Roberto Santucci
  • Roteiro: Paulo Cursino
  • Elenco: Leandro Hassum, Elisa Pinheiro, Miguel Rômulo, Arianne Botelho, Louise Cardoso, José Rubens Chachá, Rodrigo Fagundes, Lola Fanucchi, Levi Ferreira, Giselle Lopes, Elisa Pinheiro, Danielle Winits
  • Duração: 100 minutos
  • Nota:

Pode vir o coronavírus e a quarentena que vier nessa vida, se tem coisa que não muda é a enxurrada de filmes natalinos que invadem os cinemas, a grade de programação na TV e as plataformas de streaming nessa época do ano. Tem de tudo que se possa imaginar: de terror à comédia românticas, de animação à ação. A variedade está na qualidade também: uns bens genéricos, outros esforçados, excelentes. Entre a safra deste ano estanho surge um título brasileiro: Tudo Bem no Natal Que Vem, comédia estrelada por Leandro Hassum.

O longa, mais uma parceria entre o ator e o diretor Roberto Santucci, segue o padrão dos outros da dupla: uma colagem  de comédias importadas; muita facilidade nas repetições e no desenvolvimento dos personagens, e aquele superespaço ao comediante. Hassum é conhecido pelo humor físico, aquele corporal que depende da amplitudes dos gestos e das caretas. Fã declarado de Jerry Lewis é fácil perceber as citações a seu ídolo. Longe de ser um mau comediante, acabou marcado pela facilidade dos projetos – mais interessados na grana fácil do que em qualquer outra coisa – e numa certa má escolha dos papéis. 

Tudo Bem no Natal Que Vem

Seria algo comparável com a preguiça de Adam Sandler. Aliás, por falar em Sandler, Tudo Bem no Natal que Vem lembra bastante um dos filmes do ator estadunidense, Click. Este e outro bem diferente, com um ator bem mais criterioso: Feitiço do Tempo, protagonizado por Bill Murray. No caso do filme brasileiro, o personagem de Hassum, Jorge, que nasceu no dia do Natal, e odeia a data, se prepara para mais uma ceia, várias e várias vezes. Com um prólogo apresentado em fotos montadas e narração, bem ao estilo receita de bolo, o filme não começa bem. Tudo aquilo mais uma vez de novo? Por quê?

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Em um filme baseado em repetições, seria bom um pouco mais de esforço criativo. Da mesma maneira, estamos falando de uma época quando a grande maioria das produções não está nem um pouco preocupada com originalidade ou qualquer qualidade narrativa, então não tem sentido perder a chance de fazer algo diferente. Em Tudo Bem no Natal Que Vem é possível notar, principalmente na segunda parte, uma dedicação especial de Hassum e um elenco interessado, mas com personagens bastante negligenciados pelo roteiro (quase dá para imaginar o “ah, só repete aí…).

Tudo Bem no Natal Que Vem

A surpresa do longa está quando Santucci se entrega ao melodrama e tem dificuldade em sair dele (não que não saia), demonstrando uma espécie de demanda reprimida. Algo que, com todo o dinheiro acumulado, ele já devia assumir e encarar logo de vez. Faz logo o dramalhão que você quer,  Roberto! Se der errado, tudo bem, é só fazer mais uma sequência de qualquer preguiça boba dessas. Apesar de todas as questões, Tudo Bem no Natal Que Vem tem suas qualidades. Há momentos divertidos, como quando Leozinho (Miguel Rômulo) conta sobre sua faculdade e é inegável que ele tenta estar numa caixinha diferente dos outros 1374 filmes sobre o tema, mas não deixa de funcionar exatamente como uma comédia natalina. Se precisa fazer rir, ela vai cumprir o objetivo; se precisa emocionar, idem.

Mas tem um ponto forte e incontornável, e é aí que Tudo Bem no Natal Que Vem realmente se salva: na identificação do público com o universo que recria. A corrida pelos últimos presentes, as compras em mercados lotados dos últimos ingredientes, a preparação das comidas da ceia de Natal e as confusões e brigas familiares são coisas pelas quais todas ou pelo menos a maioria das pessoas passam nesta data. Perceber em Jorge parte de nossas rotina, ainda que com tintas carregadas – ou não -, e se transportar para o inferno da prisão naquela vida só de vésperas de Natal (arrepio só de pensar) é, sem dúvida o grande trunfo do filme. Podia ser melhor? Podia. Mas diverte.

Um grande momento
Tráfico de entorpecentes

Ver “Tudo Bem no Natal Que Vem” na Netflix

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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