Crítica | Festival

Radical

Sacudindo a terra

(Radical, MEX, 2023)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Christopher Zalla
  • Roteiro: Christopher Zalla
  • Elenco: Eugenio Derbez, Daniel Haddad, Jennifer Trejo, Mia Fernanda Solis, Danilo Guardiola
  • Duração: 122 minutos

No nordeste do México, fronteira com os Estados Unidos, está a cidade de Matamoros. O lugar marcado pela pobreza e a violência ficou conhecido por ter sido lá que Donald Trump, em seu governo, construiu o campo de concentração para imigrantes. Porém, também foi lá que, em 2011, iniciou-se uma das histórias mais interessantes da educação moderna, na Escola Primária Jose Urbina López. Com a falta de investimentos, furtos constantes dos equipamentos, falta de luz, mobiliário quebrado e insuficiente, e educadores frustrados, os alunos tinham pouco interesse em estudar e as piores médias do país. Pelo menos até que Sérgio Juárez, um empolgado professor, desafiou os métodos tradicionais e provocou a mudança na vida daquelas crianças. Radical, é baseado na história real deste homem e seu método revolucionário de ensino.

“Era uma vez um burro e seu dono. Um dia, enquanto andavam, o burro caiu num poço seco. Apesar de não ter se machucado, não conseguia sair. Como o animal já estava velho, o dono resolveu não tirá-lo do buraco. Começou então a enterrar o animal e, assim, já tampar o poço. Com uma pá, ele começou a encher o buraco de terra e assim continuou, apesar do choro do animal. Em algum momento, o burro se calou e o homem achou que ele estava morto, mas de repente viu suas orelhas surgirdo. Sacudindo a terra que ia caindo sobre ele, o burro a usou como apoio para a sua saída do buraco”

O diretor Christopher Zalla abre o seu longa fazendo um panorama do que era a realidade do local na época dos eventos, expondo toda o abandono, violência e pobreza da cidade. Há aquela exaltação da desgraça que reforça essa imagem tão repetida do país norte-americano nas telas. O lixão, a cadeia, o tráfico, a mãe ausente, todos são elementos que estão ali amalgamados por uma trilha sonora melosa para dizer onde estamos e o que vamos enfrentar. 

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Radical opta pelo caminho do melodrama e tem nele um elemento importante para demonstrar a transformação, mas, além da escolha o deixar no mesmo lugar de tantos outros títulos que falam sobre a realidade mexicana, há mais. O estilo também domina as narrativas que abordam o ambiente de sala de aula, aquelas que exaltam professores que chegam para mudar a vida de seus alunos e os salvarem do futuro óbvio que os espera. E, mesmo que se baseie em uma história real, o roteiro do próprio diretor não se afasta de tantos outros filmes já visto sobre esta mesma temática, inclusive quando se leva em consideração a apresentação dos personagens e a sequência dos eventos.

Porém, assim como todas as outras, aquilo que se vê tem potencial para cativar, em especial pela atuação de Eugenio Derbez (No Ritmo do Coração) como Sérgio Juárez e pela dinâmica que ele estabelece com os jovens atores com quem contracena. Assim como Jennifer Trejo, que dá vida a Paloma Noyola Bueno, a jovem gênia descoberta na primeira turma de Juárez, e Mia Fernanda Solis, que vive a pequena filósofa Lupe. Mesmo sabendo que tudo ali está sendo feito com o propósito de nos deixar envolvidos, aos poucos vamos nos apegando aos alunos e à amizade que surge entre o professor e o diretor. É aquilo, até podemos resistir à manipulação, que está anunciada desde o início do filme, mas basta o primeiro trabalho em grupo para que um sorriso surja no rosto, a coisa comece a fazer efeito e leve a outros sentimentos, nem sempre positivos.

Consciente de onde quer chegar e despretensioso, Radical abraça o formato e, em sua simplicidade e fórmula fácil, é eficiente em contar a sua história. Uma história que merece ser conhecida, mas como todas as outras que envolvem mudanças positivas e importantes no campo da educação acabam muito menos populares do que outras sobre qualquer outro assunto, às vezes que acontecem no mesmo lugar. Como entretenimento, embora não supreenda, vai agradar bastante gente.

Um grande momento
Na biblioteca

[Sundance Film Festival 2023]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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