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Uma Quase Dupla

(Título original, PAÍS/PAÍS/PAÍS/PAÍS, ano)
Gênero
Direção: Marcus Baldini
Elenco: Cauã Reymond, Tatá Werneck, Valentina Bandeira, Louise Cardoso, Alejandro Claveaux, Ary França, Daniel Furlan, Gabriel Godoy, Ilana Kaplan, Caito Mainier, Pedroca Monteiro, Luciana Paes, George Sauma, Priscila Steinman
Roteiro: Leandro Muniz, Ana Reber
Duração: 100 min.
Nota: 4 ★★★★☆☆☆☆☆☆

É interessante ver que Uma Quase Dupla se volta para um gênero de filme ainda pouco explorado na cinematografia brasileira. A comédia policial, dessas que se vê sendo produzida a torto e a direito, onde uma dupla inusitada de parceiros se une para resolver um caso, ainda é novidade por aqui. O filme de Marcus Baldini tenta preencher essa lacuna, e até consegue, mas o resultado deixa bastante a desejar.

A dupla de policiais é vivida por Tatá Werneck, um dos grandes nomes da comédia brasileira atual, e Cauã Reymond, galã da televisão e ator dedicado a obras mais autorais no cinema. Em volta deles, está um elenco cômico jovem de fazer inveja, com nomes como os de Daniel Furlan e Caito Mainier, do hypado webprograma Choque de Cultura, e a participação especial de Louise Cardoso.

O roteiro segue aquele roteiro padrão do gênero: as diferenças entre os dois parceiros, a investigação e a solução do caso. Sem nada muito surpreendente, sobra ao público esperar pela diversão comum ao tipo de filme. E é aí que começam os problemas do longa-metragem. Há um desequilíbrio no desenvolvimento dos dois personagens: enquanto existe um aprofundamento na construção de Cláudio, sobra à Keyla se sustentar no talento de Tatá. Talvez num efeito de causa e consequência, o que se vê da comediante não dá conta do recado e, com a superficialidade evidente, mesmo que sobre habilidade com o cômico, falta graça à construção.

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O começo, bastante influenciado por filmes e seriados das décadas de 1970 e 1980, já dá sinais disso. Ali se percebe uma química entre os atores, mas há um descomedimento nas tentativas de fazer rir, muitas exageradas e fora de hora, o que atrapalha bastante essa fundamental empatia e primeira imersão no longa. Afinal de contas, esse gostar da dupla é fundamental para que se compre a história. Muito – ou quase tudo – de Máquina Mortífera está em Riggs e Murtaugh, assim como Tira em Apuros está em Jimmy e Paul ou A Hora do Rush em Sang e Lee. Mesmo que se fale de personalidades muito diferentes e de realidades muito distantes, é importante que haja um equilíbrio entre essas duas personagens para que tudo aconteça. Não é o caso de Uma Quase Dupla.

As diferenças iniciais entre a policial que veio do Rio de Janeiro e o policial da cidadezinha pequena onde todo mundo é legal são até divertidas e poderiam chegar longe, mas não se concretizam. Em cena, temos um Cauã muito bem como o policial Cláudio e uma Tatá que parece solta demais no papel, sem conseguir com que aquela personagem realmente se comunique.

Porém, mesmo que tropece na hora de criar essa conexão com a dupla, há uma dedicação na construção dos eventos, com cenas de crimes elaboradas, a já conhecida histeria do delegado que chefia a dupla e um suspensezinho que consegue se beneficiar da também esperada reviravolta no roteiro.

Vale por chegar ao gênero, mas é preciso saber que nem sempre o timing cômico é suficiente para uma boa atuação, e que uma mão mais firme da direção na condução dos atores pode fazer a diferença.

Um Grande Momento:
Shimbalaiê.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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